segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

Sophia!!"

Quando
Quando o meu corpo apodrecer e eu for morta
Continuará o jardim, o céu e o mar,
E como hoje igualmente hão-de bailar
As quatro estações à minha porta.

Outros em Abril passarão no pomar
Em que eu tantas vezes passei,
Haverá longos poentes sobre o mar,
Outros amarão as coisas que eu amei.

Será o mesmo brilho, a mesma festa,
Será o mesmo jardim à minha porta,
E os cabelos doirados da floresta,
Como se eu não estivesse morta.


Sophia de Mello Breyner Andresen, minha poeta favorita, desde muito!

sexta-feira, 3 de janeiro de 2025

Tiago Nené

Nossas caravelas nunca partem para Portugal como destino, mas sim como porto. Precisamos rever isto, fazer de Portugal o pai generoso que tudo nos deu,embora tenha tirado mais do que devia. Amo-te,Portugal, com o ódio dos filhos.

Por falar nisso, o poema do Tiago Nené para o filho é de doer.

CARTA AO FILHO

filho, já não há sangue do meu correndo nas tuas veias,
há uma humidade opaca nesta ferida,
sinto-me um sopro enchendo a fissura da rocha que sou;
filho, havia ainda um último fósforo, uma dúvida
mais transparente que o ar,
a única que não pode haver entre um pai e um filho,
uma árvore ardendo no meu amor;
filho, hoje o teu rosto parecido com o meu
perdeu os pilares que seguravam as nossas parecenças
e toda a respiração se desmoronou;
filho, meu único filho, perdoa-me hoje
o que sinto de ontem, um desamor injusto e selvagem,
cravado na memória, retroactivo;
o teu pai

quinta-feira, 2 de janeiro de 2025

Poesia

A ideia é de postar sempre poesias por aqui, duas a três por semana. Começando 2025 com uma beleza premonitória:

"Para você, que é emocionado"

Sem fingir algo a mais.
Sem dizer que quer, sem querer.
Sem despertar propositalmente expectativas
que não pretende cumprir.
Ser pouco, se só puder ser pouco.
Ser muito, se realmente tiver muito para dar.
É mais do que responsabilidade afetiva,
é bondade.


“Pra Você Que É Emocionado” (Academia, 2024), de Victor Fernandes

2025, A Missão

De verdade, pretendo manter o blog, já que não quero continuar com as redes sociais que não forem do Clube Secretário.
2024 nao vai deixar saudades, vamos lutar para que 2025 seja digno de figurar nos anais das histórias de vida de cada um.

domingo, 26 de novembro de 2023

Um fósforo frio

 AH! estou me sentindo um "sobrevivente de mim mesmo, um fósforo frio...!. Dias de chuva, sem sol, tristeza escorrendo pelos olhos, fica difícil entender e tentar aceitar o que acontece nesse país. 



2023 não foi legal comigo, perdi tantos amigos queridos que a sensação é de ter embarcado em um navio sem tripulação, sem destino, sem companhia, sem nada... e a tempestade está logo ali. Fazer o quê?Caminhar, ainda que claudicante, é o que nos resta, é o que resta, é o que me resta. Não é fácil!



segunda-feira, 17 de julho de 2023

Aniversário

Passou o aniversário, né? Agradeço os votos, os abraços, as (poucas) lembranças. Sem clima, though. Meu estado de espírito está no poema "aniversário", de Álvaro de Campos, também conhecido como Fernando Pessoa, etc e tal. Não quero parecer ingrato, só o clima que nao era de festejos...

 Aniversário

 No tempo em que festejavam o dia dos meus anos, Eu era feliz e ninguém estava morto. Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos, E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer. No tempo em que festejavam o dia dos meus anos, Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma, De ser inteligente para entre a família, E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim. Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças. Quando vim a.olhar para a vida, perdera o sentido da vida. Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo, O que fui de coração e parentesco. O que fui de serões de meia-província, O que fui de amarem-me e eu ser menino, O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui… A que distância!… (Nem o acho… ) O tempo em que festejavam o dia dos meus anos! O que eu sou hoje é como a humidade no corredor do fim da casa, Pondo grelado nas paredes… O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas), O que eu sou hoje é terem vendido a casa, É terem morrido todos, É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio… No tempo em que festejavam o dia dos meus anos … Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo! Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez, Por uma viagem metafísica e carnal, Com uma dualidade de eu para mim… Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes! Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui… A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos, O aparador com muitas coisas — doces, frutas, o resto na sombra debaixo do alçado, As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa, No tempo em que festejavam o dia dos meus anos. . . Pára, meu coração! Não penses! Deixa o pensar na cabeça! Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus! Hoje já não faço anos. Duro. Somam-se-me dias. Serei velho quando o for. Mais nada. Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira! … O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!…

domingo, 9 de julho de 2023

Mau, péssimo humor

 Repassando os posts, vejo que o judiciário brasileiro (minúsculas e medo, agora que falar mal é crime!) sempre foi uma pedra no sapato dos minimamente consequentes.

o único motivo real para ir em frente

Vc acredita no judiciário (minúsculas e pavor de um dia precisar me enfronhar nos meandros jurídicos)?? Caso positivo, tente me explicar as razões nos comentários. Não vale "ruim com ele, pior sem ele"!!

A guerra movida ao Inominável (Bozo, para quem chegou de Marte ontem e não deu tempo de ligar a TV), o descrédito lançado à Lava-Jato, a bajulação ao poderoso do momento, tudo isso me deixa desgostoso e suspechoso... 

Uma colagem 

Lula, o Relativo, tornou-se um exemplo para todas as crianças "desse" país e, num assombro que só surpreende o Curupira, Dona Janja tenta ocupar os holofotes a qualquer pretexto, esquecendo-se daquele ensinamento básico da Rita Cadilac: "o palco é de Painho". (Chacrinha, para quem acha que o mundo começou em 2011!).

Não podíamos ser mais felizes

2023, francamente, vai embora me devendo, a menos que providencie algo tão positivo que o negativo vai gerar uma corrente tão forte que destruíra todo medo e inconsequência.

Um ano triste, muito triste.