Que coisa!! Pós-carnaval, parece que tudo fica mais fácil. Como não participo dessa alegria compulsória, fico em casa, aproveito para colocar a leitura em dia, trabalho no atelier (as colagens estão por aí!) e me divirto pensando.
Pensando que somos um país condenado ao fracasso...não é possível que essa sequência de fatos esdrúxulos seja natural, alguém lá em cima colocou um pano de prato no futuro do Brasil...
Não, eu publiquei nada; então, publico hoje uma das minhas poetas favoritas, a quem admiro muito e sinto que não seja conhecidíssima e amada por todos que gostam de sofrer em conjunto.Claro, estou falando da Orides Fontella, cuja obra completa foi lançada há pouco tempo. Dela, pode-se ler:
FALA
Tudo
será difícil de dizer:
a palavra real
nunca é suave.
Tudo será duro:
luz impiedosa
excessiva vivência
consciência demais do ser.
Tudo será
capaz de ferir. Será
agressivamente real.
Tão real que nos despedaça.
Não há piedade nos signos
e nem no amor: o ser
é excessivamente lúcido
e a palavra é densa e nos fere.
(Toda palavra é crueldade.)
E, para quem gosta:
O GATO
Na casa
inefavelmente
circulam olhos
de ouro
vibre ( em ouro) a
volúpia
o escuro tenso
vulto do deus sutil
indecifrado
na casa
o imperecível mito
se aconchega
quente (macio) ei-lo
em nossos braços:
visitante de um tempo sacro (ou de um não tempo).
Quem escreve "toda palavra é crueldade" tem de estar na prateleira mais alta.
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