5 poemas e uma linha reta
variação de intermezzo: impressões da aurora
pintar meu corpoema
azul de laranja
então quem sabe
amanheser.
architextura
se faz favor, da próxima
quero mais que ternura:
me inventa em iminência.
outra variação
em causa de te sonhar
minha noite se fez dia
e me calcei de nuvens.
outra variação, outra
em te sonhar fiquei tão santa
que agora pra me comer
só de joelhos.
ripristino, o il suo lavoro
não, menina,
eu não vou fazer chover.
as tintas estão estiradas
e meu corpo branco esparramado:
ele vai me pintar.
(camponesa, cheiro, estrelas, girassóis?
— como ele quiser.)
sanguidolente
tenho dois homens ao meu lado. um me disputa com lembranças d'uma época em que só havia por comida xapati com açafrão e nossas ânsias; promessas d'um futuro.
o outro me vem com canções, essa sua carne que me quer poemas pra dentes.
há ainda um terceiro, o que me pega e tem, essa chuva. tardia chuva-súplica que não veio em dia de são josé. a chuva que me traz saudades de tudo que não vivi, símbolo desse homem que não está e me é. chuva-choro de mim. chuva-você que me cai, dono de todos os meus ais.
os dois primeiros me cospem, me rasgam. vão-me embora. fica o homem que me dói e gargalha.
mas não me restam autopiedades. é bom também doer. as cólicas hemorrágicas e as pedras na vesícula; o pedaço de ostra que me ficou por indolência no dedão do pé esquerdo; ter uma dezena de filhos de cócoras; não tomar drogas e ter os piores pesadelos.
dessa vida suicida, tudo: a morte lenta e dorida, a morte boa overdose de gozo. E os poemas impossíveis, que até chão seco dá semente.
Retirado do sítio: http://www.escritorassuicidas.com.br/edicao39_4.htm#ninarizzi39
Gracias! y un beso!
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