domingo, 19 de janeiro de 2014

Observando as coisas

Uma mandala para meditação, com objetivo de aprimorar a tolerância.
Como escreveu a Sophia, "suportar é o tempo mais longo", e morar no Rio de Janeiro tem estendido o tempo até os limites do suportável. Mas é preciso observar o que escreveu Gandhi, esse caminhante que tentou mudar o mundo através do pequeno gesto, em uma lição que parece esquecida: "Tolerância não significa aceitar o que se tolera."

Toda tolerância é uma concessão. O ideal é não ter de tolerar nada, não é prerrogativa aceitar o outro.
As pessoas não têm facilitado essa convivência, tenho de admitir, embora seja doloroso. Alguns pontos que a observação diária do outro dizem que o ser humano está atingindo um nível de degradação na nossa cidade que as esperanças de um futuro risonho, fraterno e feliz  são, a cada dia, mais distantes e impraticáveis:

1) Esforço não resulta, necessariamente, em algo bom, bonito, prático ou belo. Nada demais, deveriam pensar. "Eu me esforcei", pensam, e acham que é tudo, mas, tal como Ulisses, é a viagem entre o esforço e o destino que deveria contar. O resultado deveria ser apenas uma flâmula (!!!) na parede! E ai do incauto que não demonstra apreço, deslumbramento, regojizo ante o produto do esforço. Como se os céus tivessem prometido uma recompensa do reconhecimento alheio a cada migalha de esforço que foi feito! Um  horror! Além da pecha de ignorante que, automaticamente, é colada no ser discordante.
Fica, então, o alerta: frequentemente, mais do que seria desejável, os esforços pessoais dão em merda, isto mesmo, merda, algo imprestável, feio, bobo. Não é que não se reconheça o esforço, é o resultado que não interessa. Eu não vaio trabalho de ninguém, evito falar mal, mas também não me sinto na obrigação de gostar de tudo só porque vejo ali um "esforço".



2) A concordância tem de ser automática. Eventualmente, quando você não concorda com a exposição que vem sendo feita, ouve-se, clara e diretamente, como se você estivesse sendo apresentado a uma equação de terceiro grau em cambodiano: "Você não entende!" ou "Você não está entendendo". Não, gente, eu estou entendendo, é que eu não concordo mesmo.
Mas a concordância compulsória virou um "sine qua non" social, transforma em pária ou ser anti-social aquele que não demonstra um apreço automatizado às ideias um tanto quanto confusas da criatura. Já aconteceu com vocês? Comigo, é quase todo dia, inclusive na feira!

A discordância virou má educação, as pessoas se sentem rejeitadas ou agredidas, já repararam? Façam um exercício diário e depois me contem!

São apenas dois tópicos, eu tinha listado seis deles, vou deixar para um post novo, quem sabe? Os dois acima já servem de um exercício de convivência, procure ver no seu cotidiano o tanto que você exige de quem está à sua volta, o quanto o mundo tem de ser distorcido para que se encaixe nos padrões que  julgam ideais.

Porém, nunca perca de vista o ensinamento de Jean Rostand,  de que ter um espírito aberto não significa tê-lo escancarado para todo tipo de bobagem. Critério e bom senso sempre prevalecem. Ou deveriam...


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