A ideia é e era escrever sobre a morte de Marielle Franco, a vereadora que foi assassinada no Rio de Janeiro nesta terça-feira, 14 de março, dia do PI (3/14, vcs sabem, é assim que se escreve data em inglês, que manda no mundo e, portanto...). Mas não dá! A frase inicial de nosso café da manhã, em conversa que, obrigatoriamente e sem lei é realizada há vinte e seis anos, foi: "É, não vamos ver um mundo melhor!" E é triste constatar que as possibilidades se reduzem a cada dia, pelo menos na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, cujo padroeiro resolveu transformar-nos, todos, em mártires... seria uma vingança através dos tempos??
Essa é a foto dela de que mais gosto:orgulho, amor e esperança! Perdemos, mulher! |
Não, eu não sou Marielle!!! Ela morreu exatamente porque era diferente, porque tinha ânimo para se levantar e lutar por um mundo melhor, porque tinha força mental para sair de casa e procurar por alguma ação que provocasse, mínima que fosse, uma ondulação nesse marasmo diário e inconcebível que nos cerca.
Marielle morreu porque era diferente, em razão de um olhar cheio de amor pelo outro, ainda que soubesse que o outro nem sempre era merecedor. Tinha força de vontade, e aí temos de trazer do passado Rollo May, citando o analista Alan Wheelis, onde diz (é um pouco longo, mas aqui não é o Tweeter!): "Entre as pessoas cultas, o uso do termo "força de vontade" tornou-se, talvez, o mais ambíguo distintivo da ingenuidade. Caiu de moda procurar, por seus próprios esforços, sair de uma situação de sofrimento neurótico; pois quanto mais forte a vontade, mais provável que seja chamada de "manobra contra o medo". Como antigamente nosso destino era determinado pela vontade, é agora determinado pela vida mental recalcada. O homem culto de hoje põe as costas contra a roda e, ao fazê-lo, talvez a impeça de girar. Assim como a vontade se desvalorizou, o mesmo se deu com a coragem; essa só pode existir a serviço da primeira e dificilmente será mais valorizada que aquilo a que está servindo. Com a compreensão da natureza humana ganhamos o determinismo e perdemos a determinação".
E isso foi escrito em um tempo sem internet, sem haters, sem vários dos ícones que nos movem através desse éter de ignorância, com pouca ou nenhuma iluminação.
Precisamos voltar a valorizar a vontade, o amor ao próximo, nem que para isso tenhamos de colocar o próximo em grilhões e que o façamos ouvir à força. Um compulsório de humanidade, eu diria, algo como "Viu alguém sofrendo, compadeça-se ou então leva porrada!".
É de porrada que precisamos, diz o Alberto, e eu estou desenvolvendo a tendência de concordar com ele. Está cada dia mais difícil de aceitar que quem luta seja ingênuo, que quem peca seja sofredor, que quem morre seja mártir. Transformarmos todos em vítimas nos levará a uma cova rasa, cheia de justos e pecadores, cheias de Mireille e Priscilas (uma médica assassinada no mesmo dia que nosso assunto de hoje!), cheias de tudo o que cabe ali, independentemente de um olhar mais piedoso ou mais raivoso.
Marielle morreu porque era diferente, em um mundo em que ser diferente ficou impossível!!! Marielle morreu porque era diferente, porque era bissexual - chamada de O Globo na "cabeça" da matéria sobre a vereadora, como se isso importasse ou tivesse alguma relevância, no momento ou fora dele. E é preciso que a diferença de Marielle seja valorizada, que o ser diferente que Marielle era seja presente em nossa sociedade, que o ser diferente que era Marielle seja aceita sem "tolerância", "compreensão" e "olhar cheio de amor".
Marielle era diferente e por isso Marielle era única! Se notaram, não substituí o nome de Marielle por pronome em nenhum momento. A razão, é claro, é que pessoas como Marielle são insubstituíveis!
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