Poesia,poesias, poetas,diários de viagem, fotos, e quadrinhos, e vídeos, e tudo que pareça poesia. E música,bastante, quando der. E mais um pouco de tudo, que a vida é poesia
quarta-feira, 8 de junho de 2016
Murilo Mendes, melhor que M&M
Uma edição linda, da finada Cosac, com fotos, ensaios, uma encadernação diferenciada. Se você gosta do gênero, provavelmente já tem. Dados, biografia, tem aos montes pela rede, é só se interessar. Aqui, um poema dele que eu acho divino, maravilhoso. Espero que vc também.
Poema Dialético
I
Todas as coisas ainda se encontram em esboço
Tudo vive em transformação
Mas o universo marcha
Para a arquitetura perfeita.
Retiremos das árvores profanas
A vasta lira antiga.
Sua secreta música
Pertence ao ouvido e ao coração de todos.
Cada novo poeta que nasce
Acrescenta-lhe uma corda.
II
Uma vida iniciada há mil anos atrás
Pode ter seu complemento e plenitude
Numa outra vida que floresce agora.
Nada poderá se interromper
Sem quebrar a unidade.
Um germe foi criado no princípio
Para que se desdobre em plenos múltiplos.
Nossos suspiros, nossos anseios, nossas dores
São gravados no campo do infinito
Pelo espírito sereníssimo que preside às gerações.
III
A muitos só lhes resta o inferno.
Que lhes coube na monstruosa partilha da vida
Senão um desespero sem nobreza, e a peste da alma?
Nunca ouviram a música nascer do farfalhar das árvores,
Nem assistiram à contínua anunciação
E ao contínuo parto das belas formas.
Nunca puderam ver a noite chegar sem elementos de terror.
Caminham conduzindo o castigo e a sombra de seus atos.
Comeram o pó e beberam o próprio suor.
Não se banharam no regato livre...
Entretanto, a transfiguração precede a morte.
Cada um deve realiza-la na sua carne e no seu espírito
Para que a alegria seja completa e definitiva.
IV
É necessário conhecer seu próprio abismo
E polir incessantemente o candelabro que o esclarece.
Tudo no universo marcha, e marcha para esperar:
Nossa existência é uma vasta expectação
Onde se tocam o princípio e o fim.
A terra terá que ser retalhada entre todos
E restituída um dia à sua antiga harmonia.
Tudo marcha para a arquitetura perfeita.
A aurora é coletiva.
Para o revisor, tem ali o >> há mil anos atrás>> mas isso acontece e pode ser usado. Para quem quiser saber, está na página 112 do livro, edição 2015.
A foto é de uma mesa de canto, de um sítio de design, que não registrei. Sabendo, coloque em comentários que eu registro na legenda.
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