segunda-feira, 16 de março de 2015

O ciúme 


(Guilherme de Almeida)



Minha melhor lembrança é esse instante no qual
Pela primeira vez me entrou pela retina
Tua silhueta provocante e fina
Como um punhal.
Depois, passaste a ser unicamente aquela
Que a gente se habitua a achar apenas bela
E que é quase  banal.
E agora que te tenho em minhas mãos e sei
Que os teus nervos se enfeixam todos em meus dedos
Que os teus sentidos são cinco brinquedos
Com que brinquei;
Agora que não mais me és inédita, agora
Que compreendo que tal como te vira outrora
Nunca mais te verei;
Agora que de ti, por muito que me dês,
Já não podes dar a impressão que me deste,
A primeira impressão que me fizeste,
Louco, talvez,
Tenho ciúme de quem não te conhece ainda
E, cedo ou tarde, te verá, pálida e linda pela
Primeira vez.


peguei do site da Andrea Dutra. O poema contém uma das assertivas que me acompanham na vida e com a qual eu não me conformo, embora concorde: primeira vez, só ela. Depois, é deserto...

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