quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Pós-viagem

A depressão pós-viagem já é esperada. Pelas mais diversas razões, mas, principalmente, pela constatação de que não temos futuro, nenhum.


Não chegaremos a lugar algum como povo ou nação e isto é muito triste. Ou então acontecerá algo extremamente grave que alterará os rumos do país em direção à civilidade, urbanidade, educação e solidariedade.


Na conceituação de autoridade, um dos pilares é a aceitação da autoridade pelo seu portador (ou dito portador). E isto não acontece de forma alguma, pelo menos no Rio. Ninguém obedece a nada nem a ninguém, é praticamente um território livre onde se pode tudo, de motos na calçada a acelerar o carro em direção ao pedestre - não são hipóteses, passo por isso DIARIAMENTE ao sair de casa para passear com o cachorro.

Viajando, percebe-se que há aqui uma confusão esdrúxula entre PODER e autoridade. Autoridade é o emprego legítimo do poder. A discussão de como se dá  transmissão do poder já deu origem a uma obra prima de Hanna Arendt, A Condição Humana, e da legitimidade da autoridade também foi discutida por Giddens. Não vou estender aqui, só reafirmar a necessidade de que os dois sejam lidos, por todos. Interessa, e muito, para a construção do país que pretendemos.



O PODER aqui decorre da força, e a AUTORIDADE, da lei. E com a impunidade, nada mais frágil para o cidadão comum, estratificadamente educado de forma inversamente proporcional a sua capacidade e intenção de violar a lei sem ser pego. E a vida cotidiana vai ficando, a cada dia, mais insuportável.

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Bom, não é uma tese nem nada, é só um desabafo. Mas em um país onde a autoridade da lei é respeitada e o poder do costume é uma força que regula as interações diárias, andar pelo lado direito das calçadas e das escadas é obrigatório, e não se pensa em transgredir, a não ser por motivos justíssimos, que devem ser identificados de imediato. Quer o diga o Alberto, que, ao descer as escadas do metrô pelo lado esquerdo foi objeto de olhares e palavras pouco gentis e, ao não ceder a passagem para um idoso na calçada, foi alvo de instruções de como se comportar em público aos gritos.  Com dificuldade de locomoção, Alberto precisava de apoio para caminhar e descer escadas, mas não era um motivo identificável a olho nu. Ao simular ter sido vítima de um AVC, com um lado do corpo paralisado, as pessoas não apenas respeitavam como cediam gentilmente o espaço. Uma pesquisa antropológica ali, no momento... rs

Foi muito engraçado, de verdade, mas também foi uma mostra de que falta muito para atingirmos um nível básico de educação, civilidade e urbanidade. Sem cumprirmos as leis, sem punirmos os que não as respeitam, não chegaremos a lugar algum. É simples assim...


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