quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Sextilha


Ah!, possuir-te a alma
sem tocar-te o corpo!
E, quando nasce o dia,
murmurar, morrendo
deste atroz martírio,
-Vai, rosa impossível!

Vai, rosa impossível.
Vai, que o claro dia
de cingir-te o corpo
sem magoar-te a alma
não chegou - martírio
de te amar morrendo!

Vai, que hoje, morrendo

De ver-te impossível,
Digo adeus ao dia
de tomar-te a alma
-Eu que por teu corpo
sofro este martírio!

Tão cruel martírio.
Tão criel, tua alma,
tão cruel, teu corpo
de rosa impossível -
Deixas-me morrendo
quando morre o dia!

E eu, junto com o dia,
amando-te e morrendo,
A ti, rosa impossível,
Choro o meu martírio:
Tu, que mal tens alma,
Não me dás teu corpo!

(Ah! Possuir-te o corpo
em rubro, claro dia,
amar-te, assim, morrendo
em tão fino martírio
-Ah! rosa impossível,
sem ferir-te a alma!

Sextilha sem corpo,
vai, torna-te a alma
da rosa impossível!


(estranhamente, na edição que tenho os parênteses não fecham. Portanto, deixo como está na edição de Poesia Completa e Traduzida, da Max Limonad p. 133)

Mário Faustino tem este poder: de repente, em um dia de chuva no Rio de Janeiro, após nove dias de chuva, alguém se depara com este poema e sofre pela rosa impossível do poeta.