domingo, 28 de fevereiro de 2010

Branquinho da Fonseca


O livro "A Poesia da presença" é uma coletânea dos poemas que apareceram na revista Presença, e sua primeira edição é de 1959, pasmem!!Minha edição é a de 2003, comprada em Lisboa, e foi lançada pela Editora Cotovia. Nela pode-se ter contato com vários poetas portuguêses que, como acontece, raramente são publicados por aqui. Abaixo, uma amostra, dentre várias outras que pretendo postar aqui.


Climas

Toda tarde choveu e anoiteceu...
A vontade que tive de sair
pelo mundo fora...a passear...devagar...
ao sol, com força e alegria,
todo, tudo se amoleceu e se afundou...

Quando, em volta
a sombra começou a esconder-me e a disfarçar,
fui só fechar a janela
para adormecer
ao som da chuva na vidraça...

(ah! os nomes portugueses...)

Foto do site Conceito de idéias

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Gertrude Stein

Um dos poucos livros que conheço que atreve-se a vir com uma folha de errata é o Poesia da Recusa, do Augusto de Campos, onde ele traduz poemas de kuhlmann, mallarmé, akhmátova, pasternak, mandelstam, tzvietáieva, dylan thomas, outros e esta maravilha da Gertrude Stein. A edição é bilíngue, como deve ser, e caprichadíssima, como é melhor que seja.

Portrait of one

Harry Phelan Gibb

Some one in knowing everything is knowing that some one is something. Some one is something and is succeding is succeding in hoping that thing. He is suffering.
He is succeding in hoping and he is succeding in saying that that is something. He is suffering, he is suffering and succeding in hoping that in succeding in saying that he is succeding in hoping is something.
He is suffering, he is hoping, he is succeding in saying that anything is something. He is suffering, he is hoping, he is succeding in saying that something is something. He is hopping that he is succeding in hoping that something is something. He is hoping that he is succeding in saying that he is succeding in hoping that something is something. He is hoping that he is succeding in saying that something is something.

Tradução? Post um comentário.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Vinicius de Moraes

A ausente

Amiga, infinitamente amiga
Em algum lugar teu coração bate por mim
Em algum lugar teus olhos se fecham à idéia dos meus.
Em algum lugar tuas mãos se crispam, teus seios
Se enchem de leite, tu desfaleces e caminhas
Como que cega ao meu encontro...
Amiga, última doçura
A tranqüilidade suavizou a minha pele
E os meus cabelos. Só meu ventre
Te espera, cheio de raízes e de sombras.
Vem, amiga
Minha nudez é absoluta
Meus olhos são espelhos para o teu desejo
E meu peito é tábua de suplícios
Vem. Meus músculos estão doces para os teus dentes
E áspera é minha barba. Vem mergulhar em mim
Como no mar, vem nadar em mim como no mar
Vem te afogar em mim, amiga minha
Em mim como no mar...


A brusca poesia da mulher amada

Longe dos pescadores os rios infindáveis vão morrendo de sede lentamente...
Eles foram vistos caminhando de noite para o amor – oh, a mulher amada é como a fonte!
A mulher amada é como o pensamento do filósofo sofrendo
A mulher amada é como o lago dormindo no cerro perdido
Mas quem é essa misteriosa que é como um círio crepitando no peito?
Essa que tem olhos, lábios e dedos dentro da forma inexistente?

Pelo trigo a nascer nas campinas de sol a terra amorosa elevou a face pálida dos lírios
E os lavradores foram se mudando em príncipes de mãos finas e rostos transfigurados...

Oh, a mulher amada é como a onda sozinha correndo distante das praias
Pousada no fundo estará a estrela, e mais além.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Vídeo

A animação Vazio Agudo, produzida pela galera da Animática Fábrica, foi inspirada em poesia de Paulo Leminski.

Vazio Agudo

Vazio Agudo from Animática Fábrica on Vimeo.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Zuka



No Leblon, com novos "amigos de infância" de São Paulo. A simpatia da Ludmila torna tudo melhor, como se precisasse. A comida é muito boa, o ambiente é muito bom, o atendimento (obrigado, Antonio) super-atencioso, um lugar para ir com amigos. Eu fui.... e vou, muito breve.

Mário Faustino

A Editora Max Limonad fechou as portas, uma pena, já que lançou alguns dos melhores livros de poesia da vida artístico-cultural brasileira. Por pura sorte, encontrei a edição da Poesia Completa-Poesia Traduzida, de Mário Faustino, em uma banca do Centro da Cidade! Já postei alguma coisa dele, mas há muito ainda

Na p. 161 encontra-se

Mito

Os cães do sono ladram
Mas dorme a caravana de meu ser;
Ser em forma de pássaro,
sonora envergadura
ruflando asas de ferro sobre o fim
dos êxtases do espaço,
cantando um canto de aço nos pomares
onde o tempo não treme,
onde frutos mecânicos
rolam sobre sepulcros sem cadáver:
E sonho outros planaltos
por mim sobrevoados na procela;
e sonho outras legendas
em mim argamassadas pelo vento,
trabalhadas em mim por mãos sem tato;
e sonho o que foi parco
mas meu e por que raro foi perdido;
e sonho o que foi vasto
mas de alheio me pesa sobre os ombros,
globo de ásperos polos,
continentes do medo
e mares onde o sangue é trilha e nódoa;
deitados no vitral
da noite intensa, exata,
assim um Fazedor empunha o cetro
ornado de serpentes;
assim refaz o que foi feito à sua
augusta semelhança
contrafacção de um gesto mais difícil
sonâmbulo e remoto - contundente;
e enquanto as nuvens quedam
de incenso carregadas, de semente,
levanto-me e estrangulo
o ato de nascer que me divide
em morna derrisão
disforme difidência de um presságio;
O Fazedor anula
o inferno que o refina
e alçando-se ao poente mais seguro
mergulha na verdade
acesa que o derrota e reduz ao
dormente ser de vidro e cor que sonha;

Os cães do sono calam
e cai da caravana um corpo alado
e o verbo ruge em plena
madrugada cruel de um albatroz
zombado pelo sol -

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Bukowski

Beat, ídolo de todo adolescente que mereça o nome, Bukowski é um escritor maravilhoso que reverte o conceito de maldito.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Elizabeth Bishop


Do livro "O Iceberg Imaginário e outros poemas", com tradução de Paulo Henriques Britto, em edição bilíngue (como deve ser!), de 2001. O estudo crítico vale por uma semana na Casa do Saber.

One Art

The art of losing isn't hard to master;
so many things seem filled with the intenet
to be lost that their loss is no disaster.

Lose something every day. Accept the fluster
of lost door keys, the hour badly spent.
The art of losing isn't hard to master.

Then practice losing farther, losing faster,
places, and names, and where it was you meant
to travel. None of this will bring disaster.

I lost my mother's watch. And look! my last, or
next-to-last, of three loved houses went.
The art of losing isn't hard to master.

I lost two cities, lovely ones. And, vaster,
some realms I owned, two rivers, a continenet.
I miss them, but it wasn't a disaster.

-Even losing you (the joking voice, a gesture
I love) I shan't have lied. It's evident
the art of losing's not too hard to master
though it may look like (Write it!) like disaster

Tradução??Deixe um comentário.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Pedro Paulo de Sena Madureira

Tua ausência não te dissolve
Sobra em meu corpo
o amor que tive
e não te move.

Tua ausência não te incomoda.
Corta a noite comum
um talho de luz
que não me envolve:

o ódio que não tive
em teus olhos frios
se acomoda.

PP foi editor da Siciliano, o livro é "Rumor de facas", lançado pela Companhia de Letras em 1989.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Sophia Andresen

Ah! Sophia! Com o poder de premonição que aos poetas é concedido, escreveu sobre o ano de 2010 no Brasil com uma clarividência que espanta!!! Do livro O Nome das Coisas, ed. 1999, p. 243:

Poema

Cantaremos o desencontro:
O limiar e o linear perdidos

Cantaremos o desencontro:
A vida errada num país errado
Novos ratos mostram a avidez antiga

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Palavreando: Repete

Para quem acha que coincidências são só coincidências:

Palavreando: Repete

Elizabeth Browning



Uma edição linda que encontrei na Strand de Nova Iorque, custou US$7.50 e não vendo nem dou. Alguém herdará, certamente, esta edição com aquarelas e que, o que é pior, na orelha da contracapa faz propaganda do lançamento de Rubayat, do Kayham, totalmente ilustrado. Onde andará este livro?
Na página 34 ela fala da necessidade de se ouvir que se é amado, assim:

Say over again, and yet once over again,
That thou dost love me. Though the word repeated
Should seem "a cuckoo-son", as thou dost treat it,
Remember, never to the hill or plain,
Valley and wood, without her cuckoo-strain
Comes the fresh Spring in all her green completed.
Beloved, I, amid the darkness greeted
By a doubtful spirit-voice, in that doubt's pain
Cry, "Speak once more - thou lovest!" Who can fear
too many stars, thou each in heaven shall roll,
Too many flowers, though each shall crown the year?
Say thou dost love me, love me, love me - toll
The silver iterance! - only minding, Dear
To love me also in silence with thy soul.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Billy Collins

Mais um poema-animação do Billy Collins. Curtinho, inversamente curto à beleza do poema.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Poesia sueca



Se fosse esquimó, talvez fizesse o mesmo efeito, já que é totalmente ignorada no Brasil. Ou a arte sueca vai além do cinema para nós? Bem, tem o design, mas não é considerado uma forma de arte.O livro que tenho é uma antologia da poesia sueca, de 1980, editado pela Vegam de Lisboa (óbvio, tenente).Há algumas coisas bem bonitas, mas as referências....Há uma lista dos editores, mas só provoca risos, pela quantidade de acentos e tracinhos. Há a palavra Författarförlaget,em referência ao poema de Söderberg. Hâ, hâ...A tradução é de vários poetas portuguêses, o que deve ter ajudado.

de Werner Aspenströn, em tradução de Casimiro de Brito

"Vivo
ou apenas imito
os movimentos da vida?"
Levanta-se.
Caminha pela escada
acima.

de Gunnar Ekelöf, em tradução de Vasco Graça Moura

Poética

é o silêncio que deves escutar
o silêncio por detrás das alusões, das elisões
o silêncio por detrás da retórica
o silêncio do que se chama a perfeição formal
isto é a busca do não-sentido
até no próprio sentido
e reciprocamente
Ora tudo o que com arte escrevo
justamente é sem arte
e todo o cheio é vão
Tudo o que escrevi
está escrito entre as linhas.

São 21 poetas suecos. Voltarei ao tema....

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Sufi

Para quem acredita que está precisando se acalmar, ver o mundo mais um ângulo além dos que já utiliza. A filosofia sufi diz mais respeito a comportamento do que pensamento, a ato do que a intenção.



Vídeo retirado do Youtube.

Sylvia Plath



Uma edição linda da Verus, com tradução de Rodrigo Garcia Lopes e Maria Cristina Lenz de Macedo. Bilíngue, como deve ser e com a reprodução dos manuscritos originais.

The Jailor

My night sweats grease his breakfast plate.
The same placard of blue fog is wheeled into position
With the same trees and headstones.
Is that all he can come up with,
The rattler of keys?

I have been drugged and raped.
Seven hours knocked out of my right mind
Into a black sack
Where I relax, foetus or cat,
Lever of his wet dreams.

Something is gone.
My sleeping capsule, my red and blue zeppelin
Drops me from a terrible altitude.
Carapace smashed,
I spread to the beaks of birds.

O little gimlets -
What holes this papery day is already full of:
He has been burning me with cigarettes,
Pretending I am a negress with pink paws.
I am myself. That is not enough.

The fever trickles and stiffens in my hair.
My ribs show. What have I eaten?
Lies and smiles.
Surely the sky is not that color,
Surely the grass should be rippling.

All day, gluing my church of burnt matchsticks,
I dream of someone else entirely.

(Precisa da tradução? Coloque em comentário que eu posto.)

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Orides Fontela

Faz parte da Coleção Poesia Reunida, da 7 Letras com a Cosac Naify, que tem uma encadernação caprichada, uma edição cuidadosa. A escolha dos eleitos (afinal,é a Cosac) é ótima. No site da Cosac eles costumavam fazer uma oferta ótima para três ou mais volumes. Não sei se ainda fazem.
Já postei alguma coisa da Orides, sua (má) fama pessoal sempre precedeu a (excelente) fama de sua poesia.É uma poeta para sempre, que será lida nos séculos que virão, por poucos, mas apaixonados.Afinal, como não amar quem escreve:

Vôo

Ter asas é não ter cérebro.

ter cérebro e não ter asas.

e também:

Axiomas


Sempre é melhor saber que não saber.
Sempre é melhor sofrer
que não sofrer.

Sempre é melhor
desfazer
que tecer.

São apenas dois exemplos. Certamente, voltarei a ela.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Casimiro de Brito

Poeta português, nasceu em 1938 em Loulé, onde estive com o Alberto e tem um mercado de queijos maravilhosos. Casimiro tem vários livros publicados, obviamente nenhum deles lançado no Brasil. O poema abaixo foi retirado da coletânea "Antologia da Poesia Portuguesa Contemporânea".

Nem a morte

Nada nos perpetua
nada
nem a morte

Só o ritmo de nossos corpos
acaso
permanece

(do livro Mesa do Amor)

Hesitação de Canto

Coleciono a matéria imperceptível
deste canto murmurado árdua ventura
de pássaro preso equilibrado
em granadas de música luz arquitetura
de crime antigo - a breve profanação
de ruínas coleciono: de rostos ancorados
na penumbra álcool: nu abandono
silencioso - ávida prisão
a do próprio corpo à morte se
condena: ofício de cinza onde sempre
é noite - coleciono
a suspensa hesitação do canto
de tanta luz tão
vulnerável - através da neve: e de guerras-

(Negação da morte)

****
Cuidado. O Amor
é um pequeno animal
desprevenido, uma teia
que se desfia
pouco a pouco. Guardo
silêncio
para que possam ouvi-lo
desfazer-se.

(Intensidades)

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Jorge Luis Borges



Do tempo que a Editora Globo lançava boas coisas,o Elogio da Sombra - Poemas/Perfis - Um Ensaio Autobiográfico, é de 1977.Infelizmente, a edição não é bilíngue, mas, alas, a tradução é de Carlos Nejar e Alfredo Jacques (dos poemas) e de Maria da Glória Bordini (texto). O texto que escolhi é um tanto longo, mas merece a viagem de cada um.

Fragmentos de um evangelho apócrifo

Desventurado o pobre de espírito, porque debaixo da terra será o que agora é na terra.
Desventurado o que chora, porque já tem o hábito miserável do pranto.
Ditosos os que sabem que o sofrimento não é uma coroa de glória.
Não basta ser o último para ser, alguma vez, o primeiro.
Feliz o que não insiste em ter razão, porque ninguém a tem ou todos a têm.
Feliz o que perdoa aos outros e o que se perdoa a si mesmo.
Bem-aventurados os mansos, porque não condescendem com a discórdia.
Bem-aventurados os que não têm fome de justiça, porque sabem que nossa sorte, adversa ou piedosa, é obra do acaso, o que é inescrutável.
Bem-aventurados os misericordiosos, porque sua felicidade está no exercício da misericórdia e não na esperança de um prêmio.
Bem-aventurados os de limpo coração, porque vêem a Deus.
Bem-aventurados os que padecem perseguição por causa da justiça, porque lhes importa mais a justiça que seu destino humano.
Ninguém é o sal da terra; ninguém, em algum momento de sua vida, não o é.
Que a luz de uma lâmpada se acenda, embora nenhum homem a veja. Deus a verá.
Não há mandamento que não possa ser infringido,e também os que digo e os que os profetas disseram.
O que matar pela causa da justiça, ou pela causa que ele crê justa, não tem culpa.
Os atos dos homens não merecem nem o fogo nem os céus.
Não odeies a teu inimigo, porque se o fazes, és de algum modo seu escravo. Teu ódio nunca será melhor que tua paz.
Se te ofender tua mão direita, perdoa-a; és teu corpo e és tua alma e é árduo ou impossível fixar a fronteira que os divide...
Não exageres o culto da verdade; não há homem que ao fim de um dia não tenha mentido com razão muitas vezes.
Não jures, porque todo juramento é uma ênfase.
Resiste ao mal, massem espanto e sem ira. A quem te ferir na face direita, podes oferecer-lhe a outra, sempre que não te mova o temor.
Eu não falo nem de vinganças nem de perdões; o esquecimento é a única vingança e o único perdão.
Fazer o bem a teu inimigo pode ser obra de justiça e não é árduo; amá-lo, tarefa de anjos e não de homens.
Fazer o bem a teu inimigo é o melhor modo de comprazer a tua vaidade.
Não acumules ouro na terra, porque o ouro é pai do ócio e este, da tristeza e do tédio.
Pensa que os outros são justos ou o serão, e se não é assim, não é teu o erro.
Deus é mais generoso que os homens e os medirá com outra medida.
Dá o santo aos cães, deita tuas pérolas aos porcos; o que importa é dar.
Busca pelo agrado de buscar, não pelo de encontrar...
A porta é que escolhe, não o homem.
Não julgues a árvore por seus frutos nem ao homem por suas obras; podem ser piores ou melhores.
Nada se edifica sobre a pedra, tudo sobre a areia, mas nosso dever é edificar como se fora pedra a areia....
Feliz o pobre sem amargura e o rico sem soberba.
Felizes os valentes, os que aceitam com ânimo semelhante a derrota ou as palmas.
Felizes os que guardam na memória palavras de Virgílio ou de Cristo, porque estas darão luz a seus dias.
Felizes os amados e os amantes e os que podem prescindir do amor.
Felizes os felizes.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Mariana Ianelli

TEMPO DE PERDER

Algo nos falta
E já não sabemos o quê.

Vestimo-nos
Com a nossa melhor camisa,
Calçamos sapatos novos,
Ainda podemos correr
Como se houvéssemos
Vinte anos a menos.

Mas estamos doentes.

Pensamos sem amor,
Sentimos sem amor,
E toda a intrepidez do mar
É apenas o nosso rugir de dentes.

As pernas estão nuas,
Os braços estão nus,
Acabou-se o mistério.

À mesa do jantar,
Não há mais comunhão.
Vamos juntos ao teatro
E talvez não retornemos.

Na penumbra do acaso,
Os massacres acontecem.
O tempo arde, o tempo urge:
Somos os sobreviventes.

Mariana Ianelli é paulista, tem diversos livros publicados, concorreu ao Jabuti, acho que em 2007.