segunda-feira, 29 de março de 2010

Rufus Cappadocia

O CD dele com a a Bethany é maravilhoso, uma mistura de Cowboy Junkies, Tuck and Patty, Tok, Tok. Tok. Este vídeo já tem dois anos, mas ainda é muuuito bom.

domingo, 28 de março de 2010

D.H.Lawrence

Os poetas são antenados mesmo, no sentido de que captam tudo que acontece e acontecerá neste mundo e em outros que talvez existam. Escrito nos anos 10(1910's), este poema de D.H. Lawrence 'pressupõe um rompimento dramático com quase tudo que a cultura recente admite ser verdade'. Ouvindo o que acontece na Rússia, Israel, Palestina, África subsaariana, é de se pensar: onde estão as pessoas como esta?

Peace and War

People always make war when they say they love peace.
The loud love of peace makes one quiver more than any battlecry.
Why should one love peace?it is so obviously vile to make war.

Loud peace propaganda makes war seem imminent.
It is a form of war, even, self-assertion and being wise for other people.
Let people be wise for themselves. And anyhow
nobody can be wise except on rare occasions, like getting married or dying.
It's bad taste to be wise all the time, like being at a perpetual funeral.
For everyday use, give me somebody whimsical, with not too much purpose in life,
then we shan't have war, and we needn't talk about peace.

sexta-feira, 26 de março de 2010

quinta-feira, 25 de março de 2010

Ruben Dario




Elogiadíssimo por Octavio Paz, o que não é pouco, este poeta nicaraguense utiliza inúmeras referências em sua poesia,tudo a serviço de uma escritura modernista, carregada de beleza e unidade. Encontrei o livro em um sebo e já estou providenciando a reencadernação.

La Dea

a Alberto Ghiraldo

Alberto, en el propíleo del templo soberano
donde Renan rezaba, Verlaine cantado hubiera.
Primavera una rosa de amor tiene en la mano,
y cerca de la jovem y dulce Primavera.

Término su sonrisa de piedra brinda en vano
a la desnuda náyade y a la ninfa hechicera
que viene a la soberbia fiesta de la pradera
y del boscaje, en busca del lírico Sylvano.

Sobre su altar de oro se levanta la Dea
-tal en su aspecto icónico la virgen bizantina-
toda beleza humana ante su luz es fea;
toda visión humana a su luz es divina:
y ésa es la virtud sacra de la divina Idea
cuya alma es una sombra que todo lo ilumina.

Pintura: O Quarto Amarelo, de Chagall.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Cecília Meireles

Reinvenção

A vida só é possível reinventada.
Anda o sol pelas campinas
e passeia a mão dourada
pelas águas, pelas folhas...
Ah! tudo bolhas
que vem de fundas piscinasde ilusionismo...
— mais nada.
Mas a vida,
a vida,
a vida,
a vida só é possívelreinventada.
Vem a lua, vem,
retira as algemas dos meus braços.
Projeto-me por espaços cheios da tua Figura.
Tudo mentira!
Mentira da lua, na noite escura.
Não te encontro, não te alcanço...
Só — no tempo equilibrada,
desprendo-me do balanço
que além do tempo me leva.
Só — na treva, fico:
recebida e dada.
Porque a vida,
a vida,
a vida,
a vida só é possível reinventada.

domingo, 21 de março de 2010

Saudade

Com Bethânia e Lenine, letra de Chico César e Paulinho Moska, é uma lindeza.

sábado, 20 de março de 2010

Studium

A revista Studium, dedicada à fotografia e conexos, é editada pelo Fernando de Tacca. Recomendo muito a todos aqueles que gostam de fotografia. Aos que não gostam, é uma chande de mudar para melhor....

Mário Faustino

                                                                   Mário Faustino
 
Mário Faustino morreu em 1962, em um acidente aéreo, aos trinta e dois anos. Crítico no JB, era famoso pelos comentários ácidos. Sua poesia, porém, guarda momentos líricos dificilmente encontráveis nos escritos de seus contemporâneos. Abaixo, um  trecho do poema “Solilóquio”, que eu acho o máximo.

                                                                            Solilóquio
 
Tudo o que importa é ser maravilhoso.
(.....)
- Eu mesmo sou o encantador do mundo!
Seres e estrelas brotam de meus lábios...
E morro deste belo sofrimento
de ser maravilhoso!

-         Ah, quem pudesse
Gritar à noite e ao tempo essas palavras
e partir pelo vento semeando versos
e terminando a criação da terra...”
 

sexta-feira, 19 de março de 2010

Afonso Henriques Neto


A paisagem não vale a pena
Pesa dizê-lo assim tão duramente,
mas o que posso fazer contra os mascarados
que penetraram os altos muros
e agora coabitam os aposentos desolados?
Já não vale a pena a manhã.
Os embuçados chegaram em surdina
e foram destroçando todos os pilares,
todas as primaveras, as lúcidas esperanças,
vultos tão horrendos que paralisaram o dia.
A noite não significa mais nada.
As casas dormem e não significam nada.
O vento cortou-se em mil fatias de desespero.
Que dimensão canta além da treva,
a face repousada, os olhos claros?

quarta-feira, 17 de março de 2010

Donizete Galvão


Aquém do homem

Para Maria Rita Kehl

Os corpos já nascem
em débito.
A dívida consolida-se
como uma craca
que adere à pele,
contamina o sangue,
sem que haja lugar
para o desejo.
Quando este surge,
irrompe
como uma facada
na jugular
em um beco escuro.

Foto: Net, sem autoria identificada.

domingo, 14 de março de 2010

Leonardo Marona

“ana c.”

a poesia,
se persiste,
quando cisma,
(instinto?)
é um passo
na direção
do abismo,
(infinito?)
ou então são
dois passos
e um colapso
(suicídio?)
nos casos
de poesia
mais rara,
(primitiva?)
ou então coice,
patada de pena.
porque as asas
(comprimidos?)
estão na cabeça
e não nas pedras
portuguesas.



“clint eastwood”

importante esperar pelo último minuto,
pela dor inexplicável que nos fará jus
à cruz que carregamos, invisível ferro,
que gela nas artérias e antecipa o tiro.

importante esperar pelo momento vazio
em que a dor trespassa então por pouco
e já não é mais dor, é tensão do mundo
– enxergar sem rédeas o terreno aberto.

não se colocar entre este e aquele século.
seguir sem nome (pois o nome na pele)
então engolir os séculos, regurgitar mais.

para remexer o caldo fundo sob a terra
aparentemente árida, de cerne difícil,
e só então cuspir o sumo – dar o tiro.



BIO/BIBLIOGRAFIA:


Leonardo Marona nasceu em Porto Alegre. Publicou recentemente o livro “pequenas biografias não-autorizadas” (poesia, 86 págs., 7Letras, 2009) e tem escritos outros dois livros de contos: Os ossos debaixo dos campos verdes, 212 págs., 2004; Maldito Orquidário, 90 págs., 2008 –ainda não publicados. Tem textos publicados nos sites Bestiário (www.bestiario.com.br); Escritoras Suicidas (www.escritorassuicidas.com.br, sob pseudônimo), Crônica do Dia (www.crondia.blogspot.com) e no literário Jornal Plástico Bolha (www.jornalplasticobolha.com.br), feito pelo Depto. de Letras da Puc-Rio, além do Jornal Vaia (www.jornalvaia.com.br), periódico literário de Porto Alegre.

Manoel de Barros

Castro Alves

Hoje, Dia Nacional da Poesia, em homenagem ao nascimento do patrono da data.




O Navio Negreiro
(Tragédia no mar)


'Stamos em pleno mar... Doudo no espaço
Brinca o luar — dourada borboleta;
E as vagas após ele correm... cansam
Como turba de infantes inquieta.


'Stamos em pleno mar... Do firmamento
Os astros saltam como espumas de ouro...
O mar em troca acende as ardentias,
— Constelações do líquido tesouro...


'Stamos em pleno mar... Dois infinitos
Ali se estreitam num abraço insano,
Azuis, dourados, plácidos, sublimes...
Qual dos dous é o céu? qual o oceano?...


'Stamos em pleno mar. . . Abrindo as velas
Ao quente arfar das virações marinhas,
Veleiro brigue corre à flor dos mares,
Como roçam na vaga as andorinhas...


Donde vem? onde vai? Das naus errantes
Quem sabe o rumo se é tão grande o espaço?
Neste saara os corcéis o pó levantam,
Galopam, voam, mas não deixam traço.


Bem feliz quem ali pode nest'hora
Sentir deste painel a majestade!
Embaixo — o mar em cima — o firmamento...
E no mar e no céu — a imensidade!


Oh! que doce harmonia traz-me a brisa!
Que música suave ao longe soa!
Meu Deus! como é sublime um canto ardente
Pelas vagas sem fim boiando à toa!


Homens do mar! ó rudes marinheiros,
Tostados pelo sol dos quatro mundos!
Crianças que a procela acalentara
No berço destes pélagos profundos!


Esperai! esperai! deixai que eu beba
Esta selvagem, livre poesia,
Orquestra — é o mar, que ruge pela proa,
E o vento, que nas cordas assobia...
..........................................................


Por que foges assim, barco ligeiro?
Por que foges do pávido poeta?
Oh! quem me dera acompanhar-te a esteira
Que semelha no mar — doudo cometa!


Albatroz! Albatroz! águia do oceano,
Tu que dormes das nuvens entre as gazas,
Sacode as penas, Leviathan do espaço,
Albatroz! Albatroz! dá-me estas asas.



II



Que importa do nauta o berço,
Donde é filho, qual seu lar?
Ama a cadência do verso
Que lhe ensina o velho mar!
Cantai! que a morte é divina!
Resvala o brigue à bolina
Como golfinho veloz.
Presa ao mastro da mezena
Saudosa bandeira acena
As vagas que deixa após.


Do Espanhol as cantilenas
Requebradas de langor,
Lembram as moças morenas,
As andaluzas em flor!
Da Itália o filho indolente
Canta Veneza dormente,
— Terra de amor e traição,
Ou do golfo no regaço
Relembra os versos de Tasso,
Junto às lavas do vulcão!


O Inglês — marinheiro frio,
Que ao nascer no mar se achou,
(Porque a Inglaterra é um navio,
Que Deus na Mancha ancorou),
Rijo entoa pátrias glórias,
Lembrando, orgulhoso, histórias
De Nelson e de Aboukir.. .
O Francês — predestinado —
Canta os louros do passado
E os loureiros do porvir!


Os marinheiros Helenos,
Que a vaga jônia criou,
Belos piratas morenos
Do mar que Ulisses cortou,
Homens que Fídias talhara,
Vão cantando em noite clara
Versos que Homero gemeu...
Nautas de todas as plagas,
Vós sabeis achar nas vagas
As melodias do céu!...



III



Desce do espaço imenso, ó águia do oceano!
Desce mais ... inda mais... não pode olhar humano
Como o teu mergulhar no brigue voador!
Mas que vejo eu aí... Que quadro d'amarguras!
É canto funeral! ... Que tétricas figuras! ...
Que cena infame e vil... Meu Deus! Meu Deus! Que horror!



IV



Era um sonho dantesco... o tombadilho
Que das luzernas avermelha o brilho.
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros... estalar de açoite...
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar...


Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras moças, mas nuas e espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs!


E ri-se a orquestra irônica, estridente...
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais ...
Se o velho arqueja, se no chão resvala,
Ouvem-se gritos... o chicote estala.
E voam mais e mais...


Presa nos elos de uma só cadeia,
A multidão faminta cambaleia,
E chora e dança ali!
Um de raiva delira, outro enlouquece,
Outro, que martírios embrutece,
Cantando, geme e ri!


No entanto o capitão manda a manobra,
E após fitando o céu que se desdobra,
Tão puro sobre o mar,
Diz do fumo entre os densos nevoeiros:
"Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
Fazei-os mais dançar!..."


E ri-se a orquestra irônica, estridente. . .
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais...
Qual um sonho dantesco as sombras voam!...
Gritos, ais, maldições, preces ressoam!
E ri-se Satanás!...




V



Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus?!
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?...
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!


Quem são estes desgraçados
Que não encontram em vós
Mais que o rir calmo da turba
Que excita a fúria do algoz?
Quem são? Se a estrela se cala,
Se a vaga à pressa resvala
Como um cúmplice fugaz,
Perante a noite confusa...
Dize-o tu, severa Musa,
Musa libérrima, audaz!...


São os filhos do deserto,
Onde a terra esposa a luz.
Onde vive em campo aberto
A tribo dos homens nus...
São os guerreiros ousados
Que com os tigres mosqueados
Combatem na solidão.
Ontem simples, fortes, bravos.
Hoje míseros escravos,
Sem luz, sem ar, sem razão...


São mulheres desgraçadas,
Como Agar o foi também.
Que sedentas, alquebradas,
De longe... bem longe vêm...
Trazendo com tíbios passos,
Filhos e algemas nos braços,
N'alma — lágrimas e fel...
Como Agar sofrendo tanto,
Que nem o leite de pranto
Têm que dar para Ismael.


Lá nas areias infindas,
Das palmeiras no país,
Nasceram crianças lindas,
Viveram moças gentis...
Passa um dia a caravana,
Quando a virgem na cabana
Cisma da noite nos véus ...
...Adeus, ó choça do monte,
...Adeus, palmeiras da fonte!...
...Adeus, amores... adeus!...


Depois, o areal extenso...
Depois, o oceano de pó.
Depois no horizonte imenso
Desertos... desertos só...
E a fome, o cansaço, a sede...
Ai! quanto infeliz que cede,
E cai p'ra não mais s'erguer!...
Vaga um lugar na cadeia,
Mas o chacal sobre a areia
Acha um corpo que roer.


Ontem a Serra Leoa,
A guerra, a caça ao leão,
O sono dormido à toa
Sob as tendas d'amplidão!
Hoje... o porão negro, fundo,
Infecto, apertado, imundo,
Tendo a peste por jaguar...
E o sono sempre cortado
Pelo arranco de um finado,
E o baque de um corpo ao mar...


Ontem plena liberdade,
A vontade por poder...
Hoje... cúm'lo de maldade,
Nem são livres p'ra morrer. .
Prende-os a mesma corrente
— Férrea, lúgubre serpente —
Nas roscas da escravidão.
E assim zombando da morte,
Dança a lúgubre coorte
Ao som do açoute... Irrisão!...


Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus,
Se eu deliro... ou se é verdade
Tanto horror perante os céus?!...
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
Do teu manto este borrão?
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!...



VI



Existe um povo que a bandeira empresta
P'ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!...
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?
Silêncio. Musa... chora, e chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto!...
Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra
E as promessas divinas da esperança...
Tu que, da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!...



Fatalidade atroz que a mente esmaga!
Extingue nesta hora o brigue imundo
O trilho que Colombo abriu nas vagas,
Como um íris no pélago profundo!
Mas é infâmia demais! ... Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!
Andrada! arranca esse pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta dos teus mares!

terça-feira, 9 de março de 2010

Alice no País das Maravilhas



Uma edição lindíssima, com tradução do Nicolau Sevcenko e ilustrações de tirar o fôlego feitas pelo Luiz Zerbini. Pouco divulgada, me achei na obrigação de falar dela aqui. Já doei dois volumes a amigos que permanecerão gratos até o final de suas vidas.

foto da divulgação

segunda-feira, 8 de março de 2010

Marília Garcia (2)


Svetlana

na véspera de sua partida para
ny, emmanuel hocquard datilografa
um poema de george oppen
em sua máquina de escrever
underwood n. 3. é como svetlana querendo voltar
para barcelona aqui não fico
mais nem um dia dizia no café
com nome grego que
lhe fazia falta ver as coisas
invisíveis daquela cidade e seu marido
na contramão carregando
no braço o menino sem língua,
tentando alcançar o que
aparecia do outro lado do mar
se alguém ainda viria
para ajudá-los
nesta época
do ano a tormenta não costuma
demorar (o poema era em inglês)
e tinham medo de se perder,
ela dizia, por isso a distância,
ritmo de degrau seguindo
cortado, por isso
o modo de andar e
o ziguezague do avião sempre que saíam juntos.
tinham medo e todos os dias fazia
algo para evitar. depois queria
encontrá-lo na rua,
perdido, como um acidente:
cruza uma esquina e vê. desligou
a chamada na hora
precisa, a voz cortada outra
vez antes de seguir
pelas ramblas.

Foto: minha, estação do Metrô em Lisboa.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Guerra à Guerra

Abaixo, um vídeo com o Agnus Dei, do War Requiem, e o poema de Wilfred Owen, At the Calvary, near the Ancre. Se possível, enjoy it!

Poemas de Guerra


Talvez por ser radicalmente contra ela, eu adoro os poemas de tempos de guerra. Principalmente os poetas que estiveram na I Grande Guerra,  os ingleses e alemães, em sua maioria. Há uma coleção da Dodo Press (o nome é um achado!), com poemas de Wilfred Owen, Siegfried Sassoon e outros que deixaram de lado o tom patriótico usual e encararam a guerra como o que ela é: um horror inominável que o ser humano já deveria ter aprendido a não repetir. Mas parece que ainda não é o tempo... Do livro de Wilfred Owen,, p. 10:

Anthem for Doomed Youth

What passing-bells for these who die as cattle?
Only the monstruous anger of the guns.
Only the stuttering rifles' rapid rattle
Can patter out their hasty orisons.
No mockeries for them; no prayers nor bells,
Nor any voice of mourning save the choirs,-
The shrill, demented choirs of wailing shells;
and bugles calling for them from sad shires.

What candles may be held to speed them all?
Not in the hands of boys, but in their eyes
Shall shine the holy glimmers of goodbyes.
The pallor of girls' brows shall be their pall;
Their flowers the tenderness of patient minds,
and each slow dusks a drawing-down of blinds.

Ler em voz alta, ouvindo "War Requiem", de Britten (ou vendo o filme do Jarman)....



A foto, um tratado, é da internet. A feição circunspecta das senhoras enquanto examinam as armas diz tudo!

quarta-feira, 3 de março de 2010

Sophia Andresen



A Pura Face

Como encontrar-te depois de ter perdido
uma por uma as tardes que encontrei
O ser de todo o ser de quem nem sei
Se podes ser ao menos pressentido?

Não te busquei no reino prometido
Da terra nem na paixão com que eu a amei
E porque não és tempo não te dei
Meu desejo pelas horas consumido

Apenas imagino que me espera
no infinito silência a pura face
Pr'além de vida morte ou Primavera
E que a verei de frente e sem disfarce

p.139 de Poemas Escolhidos, Cia das Letras
Foto: Um beco de Lisboa, foto minha.

terça-feira, 2 de março de 2010

Antonio Carlos Secchin



Não,não era ainda a era da passagem
do nada ao nada, e do nada ao seu restante.
Viver era tanger o instante, era linguagem
de se inventar o visível, e era bastante.
Falar é tatear o nome do que se afasta.
Além da terra, há só o sonho de perdê-la.
Além do céu, o mesmo céu, que se alastra
num arquipélago de escuro e de estrela.

Carioca (de 52), professor, editor da revista Poesia Sempre; seu livro mais recente é Poesia e Desordem, pela Topbooks.

A foto é minha, na fazenda.