quinta-feira, 5 de maio de 2011

Peraí, Ministro...

Há certas coisas que provocam a necessidade de você se expressar, de falar para mais alguém aquilo que vc pensa, mesmo que isto não provoque seque o movimento da asa de uma libélula (uma cabeça poética chama a atenção da vítima leitora em potencial!!).

Caso não tenham notado, eu sou gay, tenho um relacionamento ha 19 anos, 9 meses e 10 dias e não estamos emulando nenhum relacionamento hetero. Nós gostamos muito da companhia um do outro, talvez já tenhamos expressado isto de forma mais ardente, temos um cachorro ao qual não tratamos como filho, formamos um patrimônio razoável juntos (financeiro e cultural, já que partilhamos nossa evolução como pessoas durante este tempo), nunca negamos nossa condição a quem sentiu necessidade de perguntar, nunca impusemos nossa situação de forma agressiva, com o objetivo de reivindicar um posicionamento social.

Na formação do patrimônio, tivemos algumas dificuldades, existe uma cláusula ne escritura de nosso apartamento dizendo que não formamos um casal, uma bobagem burocrática à qual nunca dei muito atenção, o que me traz arrependimento.

Nossas divergências e idiossincrasias são administradas civilizadamente na maioria das vezes, e de maneira ríspida e mal educada em algumas, e na maior parte das vezes, essas são provocações minhas.

Pronto, considero-me apresentado, mesmo para os que me conhecem.

O que motivou isto?? A frase do Ministro Ayres Brito, do Supremo, dando seu voto favorável à união estável entre casais do mesmo sexo. Muitas platitudes, obviedades, mas a frase abaixo chamou minha atenção por sua inadequação e clara falta de análise do seu conteúdo:

"Aqui, o reino é da igualdade absoluta, pois não se pode alegar que os heteroafetivos perdem se os homoafetivos ganham - explicou." (transcrição de O Globo do dia 5 de maio de 2011, página 3).

Resumiu-se tudo em um perde e ganha?? Ridículo, senhor Ministro. Do que se trata é da reparação de supressão de direitos!!!Direitos são negados por sermos gays, direitos são escamoteados por navegarmos no mesmo mar que todos navegam, mas aproveitando uma corrente diferente. Não existe, filosofica, financeira ou juridicamente, a tal igualdade absoluta.

Do que se trata é de reconstituição dos direitos básicos constitucionais, de formação de família, garantia de patrimônio, garantia do direito à procura da felicidade.

Vamos mudar esta idéia de que os gays estão ganhando um presente...façam o que é preciso para que as pessoas homoafetivas (termo tão caro ao Ministro) tenham reconhecida a necessidade de ser um cidadão em pleno gozo de seus direitos, já que nunca fomos eximidos de nossos deveres por sermos gays.

Eu não quero me casar, eu não quero adotar uma criança, eu não quero poder chamar o Alberto de marido, nem quero ser chamado assim. Nosso companheirismo ou seja lá como gostam de chamar já atravessou momentos muito mais conturbados do que esse. Mas eu quero que as pessoas que sonham esses desejos não tenham de acordar em uma realidade cruel, segregadora e preconceituosa.

Então, desabafei....

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