segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Notícias da Semana

Agora são chamadas de "pessoas em situação de rua" por uma gente "em situação de idiotice"..
Diz a Val Galvão, cujo blog Macaquices e outras coisas é uma delícia, e agora está se especializando em fotografia, uma mais linda do que a outra, diz ela que eu atraio, mas acho que as coisas acontecem comigo por que eu presto atenção nas pessoas. Vejamos:

1) Descendo a rua da Assembleia, a senhora moradora da rua se aproxima, depois de mais uma tentativa frustrada, e pede:
"-Moço, paga um pedaço de bolo prá mim!
 e eu:
 - "Bolo? Não serve pão de queijo?"
Aqui, já se nota que algo estranha acontece. A pergunta doida, e a resposta, com duas perguntas mais doidas ainda!Eu nem tinha pão de queijo!E quando me pegam distraído, é sempre um perigo!!!
- "É meu aniversário, eu quero um bolo!"
Pronto, gente velha, pedindo o mais do que razoável, o menos que mínimo, sempre me atingem nos bagos!!
E lá fomos nós até a Lanchonete Nacional, onde ela comeu seu bolo de limão com casquinha de açúcar, tomou café pingado com leite ("Preto não, senão eu não durmo!"), um longo papo, um tchau. Não rolou beijinho nem sei o porquê, acho que o cheiro do cobertor cortou uma despedida mais efusiva!!


2) No caixa do supermercado Apolo, passo meus dois itens (Sucrilhos e peito de frango, com osso!), que, como poderão ler, são peça importante no desenvolvimento da minha análise sociológica. "Senha", assim mesmo, uma palavra só, e seca. Estamos todos acostumados, né não? Gentileza, hoje em dia, é apenas uma palavra na camiseta, já que nem o próprio praticava o que escrevia. OK, o costume me levou a digitar os números mágicos. Enquanto aguardava a resposta do banco, a caixa levanta os olhos e diz:
"- Me dá aquela flanela ali!", e, realmente, ali havia uma flanela.
Eu baixei meus olhos, olhei nos olhos profundos como um valão na Zona Norte do Rio, e não me mexi. Ela levantou seus olhos em direção aos meus, eu baixei os meus em direção aos dela, isto por três vezes... e aí:
"- Não ouviu?", assim mesmo, uma professora primária, sem disposição para repetir a pergunta para o aluno que não prestava atenção.
Mas eu estou acostumado, né? e mandei:
"-Ouvi. O que eu não ouvi foi o pedido de por favor!!".
Ah! uma frase vencedora, vocês não acham? Pois erraram, feio mesmo, erraram longe. Pois tive de ouvir:
"-Essas pessoas que compram essas coisas acham que todo mundo é escravo!", dirigindo-se a ninguém, especificamente, mas referindo-se a mim. Peguei minha sacolinha reciclável e me mandei.A Kellog's nunca deve ter imaginado a posição ingrata que ocupa no imaginário dos menos favorecidos cariocas.

Selvagem é bonzinho até o forno atingir a temperatura correta...
Minha vocação para Leôncio, francamente, é muito fraquinha. Estou mais para Lévi-Strauss, que aproveita estas oportunidades para apreciar o desenvolvimento (ou a involução) do ser humano.
É triste ver no que o carioca está se transformando, no que está transformando a sua cidade, e no que a cidade está transformando a ideia antiga de que carioca era um estado de espírito. Não mais, até mesmo porque carioca hoje é uma espécie em extinção.
Não tenho a menor nostalgia do que não vivi, muito embora ache que a cidade do Rio de Janeiro era a cidade mais linda que o mundo já viu. Era, gente, era um lugar lindo, como disse a Elizabeth Bishop, com uma cidade horrorosa nele. Ah! Os poetas! Tão perspicazes!!! Se vissem em que a cidade se transformou, derramariam lágrimas de sangue e suas palavras mágicas os abandonariam...


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