sexta-feira, 3 de junho de 2016

Alberto de Lacerda

Mais um poeta das terras lusitanas, ainda aguardando a caravela que nos levará ao conhecimento e desfrute de tudo de bom que se produz alentejo e além.
Hoje é sexta, e o poema tem tudo a ver... ouvir, cheirar e escutar!

Desfrutem!


To Night
Esta noite vou embebedar os meus navios
rasgar os meus poemas
e as minhas raras (raríssimas)
cartas de amor.

Esta noite vou ser horrível
pior do que o costume
vou desabobadar os ceús da minha esperança
viga por viga estrela por estrela

Esta noite vou embebedar os meus navios
vou deixar de falar a imensa gente
vou encontrar um sábio chinês
que me recitará poemas muito simples
insuportáveis de tão belos

esta noite vou destruir mapas antigos
abrir certas janelas e quebrar
a possibilidade de alguém mais entrar na minha vida.

Esta noite vou pedir perdão aos meus amigos
e escrever uma última carta sem a mínima sombra de sentimentalismo

Esta noite vou embebedar os meus navios

(do livro Palácio)

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