terça-feira, 15 de abril de 2008

Marcello Sorrentino




Perversa aerostação


E a natureza continua fazendo loucamente pessoas como eu,
mandando-as de encontro a mim, como você.

Eu vejo agora o que estamos fazendo: dizendo não
às flores para que sejamos nós a única flor.

E concedamos um terrível encanto à vida,
desfibrando flores sob o noturno

Algodoal de estrelas, beijando o devastado flanco
da lua, que também usa nossas máscaras de ladrão.

Posso sentir agora mesmo Deus nos imaginando,
o Tempo nos colecionando como borboletas:

E é lindo arder na invenção dos outros, florir
e ser segado como a safra de uma idéia!

Ó amigo, eu não sei como dizer que amo, tanto,
que me preocupo, de verdade, com a sua morte.

E se por amar com esta agonia das mães
voltassem os milagres aos meus lábios?

E usando os cabelos como colar, eu sorrisse só
porque um besouro ou um bambu perfuma o vento?

Mas estamos apenas num poema onde há muito
as montanhas e as flores vêm mentir.

Onde há mais tempo que as sombras eu ando
em minha direção, juntando com as mãos o céu rachado.

Continua porém a natureza a fazer pessoas como eu,
mandando-as de encontro ao céu, numa perversa aerostação.

Quem sabe o corpo enfim aprenderá sem perguntar?
Mas de pernas de fora, tento ainda interrogar o mar,

Enlouquecendo porque o mar não pára de responder,
e vagas, e vagas são as suas respostas.

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