quarta-feira, 19 de maio de 2010

Branquinho da Fonseca 2



Mar Coalhado

Da janela olho o inverno,
sigo um fumo que sobe,
depois, descendo...penso:
há calor nesse lar,
felicidade, paz:
há distância do mundo...

Sonho a simplicidade
de ser alegre e feliz.
Que mundo tão diferente
o céu alumiaria!
Só queria o que tivesse,
só ia onde me levasse...

Navegando na paz
de só estar onde estava...
esquecendo que vim,
não me sonhando ir...
-Eu que fico onde passo...
e estou onde não irei...

Assim, sofrendo tudo,
ter mais é sofrer mais,
é quase já possuir
e ficar na ansiedade
de só faltar o nada
que sempre há-de faltar.

O meu reino é uma ilha
que o mar consome e isola;
terra que para mim
é demais e não chega.
Vou dá-la a um lavrador:
que aproveite a desgraça.

Nesta janela gelo,
rodeio-me de inverno,
estou no pólo do mundo
que fica lá para baixo
com muito sol que o aquece,
e gente que se alcança...

Olho-me em volta o gelo
que sinto quase em mim...
pendem-me os braços, mastros...
Sou um navio preso
que vai ser esmagado
se continua o inverno...

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