sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Ossip Mandelstam

Apesar de escrever sempre em russo, ele era polonês, nascido em Varsóvia. Viveu em vários países da Europa, incluindo França, Suiça, Itália e Alemanha e, apesar de vários pontos em comum, detestava, repudiava mesmo, Rimbaud. Era judeu, mas escolheu ser batizado para poder entrar na Universidade de São Petersburgo. Pragmatismo perde!!!Preso por motivos políticos, foi preso para a Sibéria, onde morreu de fome...Sua esposa, Nadjena (Nádia) decorava seus poemas, para que eles não se perdessem. Lembra alguma coisa do Ray Bradbury? (Farenheit 451...noblesse oblige).

A vantagem de ter uma livraria como a Cultura-Cine Vitória: uma edição bilíngue, como tem de ser, editada pela Assírio e Alvim de Portugal, com um ensaio ótimo como prefácio. A tradução é de Nina Guerra, uma total desconhecida para mim, esse passageiro desta caravela descontrolada que insiste em se afastar de Portugal.



Caminheiro

Sinto é um medo, um medo insuperável
Defronte das alturas misteriosas.
E dizer que me agradam andorinha
NO céu e do campanário o alto voo!

Caminheiro de outrora, cá me iludo
Pensando ouvir à borda do abismo
A pedra ceder, a bola de neve,
o relógio batendo eternidade.

Se assim fosse! Mas não sou o peregrino
Que vem dos fólios antigos desbotados,
e o que em mim real canta é essa angústia:
Certo - desce uma avalancha das montanhas!!
E toda a minha alma está nos sinos,
só que a música não salva dos abismos!!

e este poema abaixo detonou todo um processo de engajamento político e permanente ameaça de prisão, que acabou acontecendo.



Vivemos sem sentir o país sob os pés,
Nem a dez passos ouvimos o que se diz,
e quando chegamos enfim à meia fala
O montanheiro do Kremlin lá vem à baila.
Dedos gordurosos como vérmina gorda,
as palavras certas como pesos de arroba.
Riem-se-lhe os bigodes de barata,
reluzem-lhe os canos da bota alta.

À volta a escumalha - guias de fino pescoço-
Nas vênias da semigente ele brinca com gozo.
Um assobia, o outro geme, aquele mia,
só ele trata por tu, escolhe companhia.
Como ferraduras, lei "trás de lei ele oferta,
em cheio na virilha, olho e sobrolho e testa.
Cada morte que faz -crime malino
e o peitaço tem amplo, ossetino.

O sotaque é português, como se nota...mas não lembra alguém conhecido por aqui nos últimos 10 anos??

3 comentários:

  1. Ainda não conheci a Livraria Cultura da Cinelândia. Mas está na minha mira!

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  2. Apresse-se!!Vale muito a pena, mas procure controlar-se!!As tentações são muitas e, como o Oscar, eu resisto a quase tudo, menos às tentações....

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  3. Passei lá na 6º feira, antes de ir ao CCJF ver a exposição de fotos sobre verão no Rio. Só comprei um livro e para dar de presente! Mas vou voltar com calma...

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