domingo, 14 de abril de 2013

Liberdade de sofrer


Caminhando pelo centro, depois de constatar em loco o incêndio da Casa Caçula, o que me privou de divertidas visitas e gastos desnecessários, venho pela calçada da Buenos Aires meditabundo.

Ao meu encontro, carregando uma criança enrolada em uma fralda imunda, a definição de periguete, o short não maior que um cinto anos 80, um top cobrindo os seios não maiores que uma maçã, sandália de dedo, os não mais de catorze anos desfraldados no corpo esguio,  falando ao celular.

Rindo, disse: "Peraí..." a alguém que, certamente, a divertia.

e olhando nos meus olhos, com a inocência que a abundância do pecado tornava irreal, soltou:

-"Tem um trocado para trocar a fralda do neném?"

e, perplexo e divertido,  nem respondi, e fui embora, rindo....

O poeta Woodsworth definiu o sofrimento como "permanente, impreciso e sombrio", Oscar Wilde simpatizava com tudo, menos com o sofrimento. Eu, muito menos humano, só resto pensando que ambos não conheceram nossos trópicos...

Um comentário:

  1. Tem horas que acho que você atrai essas figuras! E acho ótimo, pois me divirto com a crônica que faz desses encontros!

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