quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Fim de uma era

Acabei com a página Um Poema por dia. O retorno era mínimo, embora eu seja agradecido por ter me proporcionado a oportunidade de conhecer muitos poetas. Acredito que Portugal e Espanha têm muito a nos dar, não sei qual seria o caminho para tornar os escritores lusos e espanhóis mais conhecidos, mas é uma pena que sejam tão pouco divulgados.
Para encerrar a página, postei um poema da Clarice Lispector, essa abusada - no sentido de ter sido usada em excesso-  por todos que querem se dizer sensíveis. Como ela escreveu, truculência também é amor.
Com isso, volto a ter tempo disponível para o blog, que andava relegado a segundo plano. Voltou ao primeiro...



Clarice Lispector
Nossa Truculência
Quando penso na alegria voraz
com que comemos galinha ao molho pardo,
dou-me conta de nossa truculência.
Eu, que seria incapaz de matar uma galinha,
tanto gosto delas vivas
mexendo o pescoço feio
e procurando minhocas.
Deveríamos não comê-las e ao seu sangue?
Nunca.
Nós somos canibais,
é preciso não esquecer.
E respeitar a violência que temos.
E, quem sabe, não comêssemos a galinha ao molho pardo,
comeríamos gente com seu sangue.
Minha falta de coragem de matar uma galinha
e no entanto comê-la morta
me confunde, espanta-me,
mas aceito.
A nossa vida é truculenta:
nasce-se com sangue
e com sangue corta-se a união
que é o cordão umbilical.
E quantos morrem com sangue.
É preciso acreditar no sangue
como parte de nossa vida.
A truculência.
É amor também.

Os comentários, como sempre, continuam abertos a todos. Beijos.

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