quarta-feira, 25 de julho de 2012

Eu e o futuro...



No seu seminal livro, Nature, Man and Woman, Alan Watts, já na introdução, embevece-se com a imagem de um riacho de águas cristalinas, onde nadam carpas coloridas. Supõe, com acerto, que somos capazes de ficar olhando por horas tal quadro, capaz de nos retirar de nossa urgência diária, um quadro de, talvez, venha ocorrendo por milhares de anos. O embevecimento traz consigo a dor de perceber que este quadro de paz e sossego talvez seja o mundo sadio, de onde estamos, de alguma forma, exilados.
Mas este é um sentimento que não dura, é claro, porque sabemos muito bem do que se trata. O peixe deve estar em constante movimento para se alimentar e escapar de seus predadores, o movimento rápido nada mais é do que uma resposta instântanea de nervos mantidos à flor da pele pelo medo.
E o mesmo sentimento e a mesma análise de sua motivação são provocados pelo voo dos pássaros, movimento das abelhas, agilidade dos esquilos, e por aí vai.
Todos sabemos que esta racionalidade pacífica, esta cultura relaxada, e a calma normalidade da vida humana não passam de uma crosta fina de hábitos reprimindo emoções tão violentas e estranhas que muitos de nós não podemos suportá-las.
E daí, da necessidade de um imperativo de ordem, tudo se inicia: a organização da vida não pode simplesmente acontecer, tem de ser controlada!! E esta necessidade de controle é que nos exila de nós mesmos, da pureza dos sentimentos que, sem os controles sociais, aflorariam em uma blitz sanguinária em sua virulência, e ausência de compaixão. Precisamos sobreviver!!! E com isto, vamos à luta contra esta quimera que nos assombra todo dia ao primeiro olhar no espelho, antes mesmo de escovarmos os dentes: a identidade!!
 Tomar conta de nossas vidas envolve risco, porque supõe enfrentarmos a imensa gama de possibilidades abertas!A escolha diária já se inicia no ato simplório de levantarmos: sim ou não? deste ou daquele lado? e por aí vamos, algumas escolhas já tão automatizadas que nem provocam desgaste e somente são percebidas na ocorrência de um "infausto": um pé quebrado, um músculo retesado e pronto: todo o automatismo se esvai, e a consciência da escolha permanente provoca um cansaço ao qual já não estamos mais acostumados.
A escolha nunca é simples, nunca é sem consequências....é preciso estar ciente, perceber onde é ou foi a encruzilhada e o que nos levou a optar pelo caminho  que seguimos. Então, em um futuro que os ingênuos e crédulos de plantão acreditam não estar tão longe, somente então faremos a opção consciente de sermos felizes.

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