segunda-feira, 16 de julho de 2012

Orides Fontela

Duas Odes (Antigas)

Deserta é a praia. e grande.
Estéreis os coqueiros, inúteis, e, a areia, demarcação de água
e terra, jaz
vazia a concha: nem mesmo
a espera a fecunda.

A tarde em mim se repete
num tempo irreal, decadência
obstinada, onde o silêncio
nunca é completamente
treva

A tarde em mim se repete
configurando uma distância
irrealizada, evanescência
onde nunca anoitece.

A tarde em mim se
repete
e nunca surgem as estrelas.



Encontrei-a uma vez, acho que uma recepção, reunião, não me lembro mais. Assustei-me, era eu em outro tempo e corpo...E como quase tudo o que me assusta, provocou  uma paixão louca, corri atrás de seus livros como se minha biblioteca fosse um relicário onde fosse preciso estar aquela presença santa.
Adoro a apresentação dela feita pela Folha, onde pode-se ler: ..."o peso da realidade lhe conduzira várias vezes ao suicídio." Isto mesmo, somente alguém como Orides poderia matar-se tantas vezes e ressurgir sempre ela ou outra, sempre reconhecível.

Estrela

Sobre a paisagem um ponto
de luz cósmica completa
e cena fixa
que não a encerra

A estrela completa
a unidade em que
não habita.

Isto mesmo, quantos de nós somos generosos ao ponto de completarmos algo a que não pertencemos? Esse abandono de alma é que faz o verdadeiro poeta, a verdadeira domadora das palavras...

2 comentários:

  1. Gostei muito desse poema, Manoel.
    Abraço.

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  2. Obrigado, Carlucho. Se vc se interessar, a Cosac Naif tem um volume com a coletânea de poemas dela, muito bonita...

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