quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Mariana Ianelli

PROCURA DO VENTO

Nesta manhã de antigas repetições,
Finalmente o gesto:
Atravessa-se o limiar e está acabado.

Alguém se põe a caminho,
De roupa estrangeira e mãos lavadas.
Assim envelhecem todos os aniversários,
O anoitecer já não compete com a aurora
E nem as pernas frágeis que despertam
Se lembram de antes nunca ter escoiceado.

Eis quando a luz se cobre de pó.

Um tempo
Para que se desfaçam as palavras,
O estilo comum dos amores
E a certidão de um palácio arcaico;
Décadas de vaidade
Para que desapareçam os sinais da duração
E exista um homem.

O corpo fala consigo próprio, sem dar-se um nome.
O corpo reza por seus mistérios, ele fala:
- Não te voltes para trás por coisa alguma,
Nem por teu pai, nem por tuas próprias armas.
Fecunda-te do nada, ou tão-só de uma lágrima.
Ainda que sob o mesmo sol de ontem,
Viverás.

Eis quando não mais a luz, não mais o pó.
No vento de horas mortas,
Desliza o homem-pássaro.

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