sábado, 23 de janeiro de 2010

Poesia Chinesa



Como todos vamos acabar usando uma ou outra palavra chinesa no dia-a-dia (relaxe, é inevitável), o livro "Um Barco remenda o Mar" (Dez poetas chineses contemporâneos), organizado por Yao Feng e Régis Bonvicino, pode ajudar a adequação aos novos tempos.
A edição é bilíngue, como deve ser e o livro não é caro. Atirem-se!!

A respeito da rosa

A mosca aparece onde é abril
quero apresentá-la com aspalavras "rosa" e "ave migratória"
elas engendram imagens de abril coisas ao mesmo tempo vivas e várias
vindas do jardim vindas do norte vindas do depósito de lixo mas significando abril
é um mês que já existe no tempo e no espaço uma concepção vívida
não é o abril da poesia nem o abril de um vaso de flores nem o abril de um inimigo
é o abril da terra as rosas completam o jardim as aves migratórias inauguram o céu
e as moscas fazem do aposento uma área onde asas conseguem se mover
cada uma cuida de sua própria vida e lança abril ao campo do nítido
ainda quero apresentar a mosca com "floração"e "trinado" "fragrante" e "melodioso"
e também quero ofertar "germes" à rosa "imundície" à ave
e "mordidas" "zumbidos" também
a passagem obscura do mundo dependa da passagem pela treva para chegar a abril.
a mosca tem a treva de mosca uma rosa a de uma rosa uma ave migratória a de uma ave migratória
nesse mês luminoso antes de entrar nesse mês típico da poesia lírica
a mosca não sabe se vai adentrar a "mosca"
uma rosa de vai adentrar a "rosa"
uma ave migratória se vai adentrar a "ave migratória"
nem todas as coisas conseguem adentrar abril como nos abris da história
na cidade onde vivo abril não consegue chegar na data calendária de abril
não consegue passar pela treva do vidro a treva do ferro a treva de uma fábrica
não consegue passar pela treva da raiva que os revolucionários nutrem pelo velho mundo
num abril sem moscas faltando uma rosa que tampouco apareceu
essa é a treva do mundo uma treva que abril não consegue suplantar.

O poema, de 1994, é de YU Jian, e está na p. 65.

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