quinta-feira, 17 de maio de 2012

Um aproach mal calculado


Hannah Arendt discute o poder e sua transferência em "A Condição Humana". Diz claramente que a  condição humana não é a mesma coisa que natureza humana. "A condição humana diz respeito às formas de vida que o homem impõe a si mesmo para sobreviver." As condições variam de acordo com o lugar e o momento histórico do qual o homem é parte, o que condiciona todos os homens, independentemente de sua posição na pirâmide social.

Vive-se e vai-se habituando com sua posição e condicionamentos. Percebe-se mais ou menos ao outro, aqueles que tangeciam nosso universo diário têm o privilégio de ter nossa percepção mais aguda. Privilégio aí tem um sentido um tanto irônico, no sentido que Pondé explicou no seu livro-manual "HIstória Politicamente Incorreta da Filosofia", que eu recomendo muito. O tempo é relativo, sabemos, mas o que muda é sua percepção...e ficamos pensando até que ponto o tempo influencia nossas vida além do aspecto físico. Somos melhores do que fomos? Quem viremos a ser? Amanhã é o quê mesmo??
A única razão para acreditarmos que as leis do movimento se manterão no futuro, tanto quanto o nosso conhecimento do passado nos permite julgar, é o fato de se terem mantido até agora.  A repetição traz o conforto da certeza!!! A crença na uniformidade da natureza  é a certeza da repetição do que aconteceu ontem e antes de ontem, onde não há exceções. Posiciona-se a pessoa no universo e mudanças são antes permitidas do que impostas. Destino e coincidência não existem!!

Essas elocubrações foram detonadas pelo Sr. Mendigo que fica ao lado da Alerj, todos os dias. Eu, na posição confortável de servidor público, casa comida, amor, cachorro e gato...O senhor de seu tempo!!!Salário e pensão garantidos. A imagem do poder!!!
 Ele já me deu dinheiro, de Monopólio, embebido em óleo e talco que é para ele ir crescendo até virar mil, ele me garantiu. Não virou, mas continuo à espera. Também coleciono as estrelas de papel dourado que ele eventualmente faz e distribui a uns poucos escolhidos. Me senti bem com sua escolha. 
Duas ou três vezes por semana eu colaboro com a sua (dele) alimentação, já colaborei com a rubrica vestuário também. Ontem, ao colaborar com o jantar da criatura, puxando conversa, perguntei: " O senhor vai mesmo comprar comida, não é?" e recebi a resposta que me reposicionou no universo: "Se é para dar satisfação, não precisa me ajudar. Sempre vivi sozinho!!"

Eu não!! Não posso viver sozinho!Nunca vivi sem ajuda!Não posso viver sem amor!!Não posso viver sem um amor!!!

E fica a pergunta: quem é o senhor do seu tempo? Quem tem nas mãos o poder de modificar?

4 comentários:

  1. Perto da minha casa sempre vejo uma moça (ou senhora) que "mora" na rua e vive de vender revistas velhas por R$ 1,00.
    E fico pensando: qual será a história dela? O que terá acontecido para ela ficar pelas ruas? Terá família?
    E o temor maior: será que algum dia eu vou estar no lugar dela??

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  2. Nããã, esta não deve ser sua preocupação...Francamente, não me interessa a história dessas pessoas e sim como elas enfrentam a completa impossibilidade de se encaixarem no mundo. Acho que a loucura, até certo ponto, é um refúgio.
    E não se preocupe, se não cuidarem de vc, eu cuido. Vá fazer blog, que eu ajudo!!!...rs...

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  3. Obrigada por cuidar de mim!!! Será que o blog é o caminho para eu escapar da loucura??? rs

    Mas eu penso na história deles... em que momento houve a ruptura, se a família sabe (se é que existe), se uma reversão é possível (se desejada, claro) e que recursos usam para sobreviver (este ponto temos em comum) e superar a inadequação que nós vemos neles e que talvez eles percebam em nós!

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  4. Somos todos inadequados, porque adaptados...o homem mesmo é um bicho, violento, solitário...e estamos conseguindo tornar este mundo ainda pior...

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