quinta-feira, 14 de junho de 2012

Novella Matvêieva


















A ALMA DAS COISAS

Gosto das casas
onde as coisas não são propriedade,
onde as coisas
são mais leves do que barcas no ancoradouro.
Não gosto das coisas sem que haja o dom
de uma mágica relação com elas.
Não, não é em ti que reside,lareira, a tua força:
de lenha, tu te enches,
como uma boca cheia de palavras,
mas não hei de arder enquanto
o mediador entre nós não for o Fogo.
Hão de me dizer:
joga fora os sonhos,
desenha a realidade,
descreve tal como são
as botas, a pera, a ferradura…
Mas se a realidade é imagem aparente
o que eu procuro é alma
sob a realidade.
Repito sempre:
o sal não está no sal
e nem o prego está no prego.

Tradução: Lauro Machado Coelho
(Poesia Soviética, 2007, Algol Editora)

9 comentários:

  1. Quando li o texto, lembrei de uma crônica que a Monica Waldvogel publicou no jornal O Globo falando de um livro (que o Alzheimer não me deixa lembrar o nome) que falava sobre um objeto que sobreviveu ao holocausto (ou outro genocídio) e que era a ligação das pessoas com a sua história. Logo após a leitura, ela aproveitou para fazer uma arrumação em casa e usou como critério só deixar objetos que tivessem significado para ela.
    Há poucos meses assisti uma entrevista do Gianecchini em que ele contava que logo após descobrir que estava com linfoma fez uma mudança na decoração da casa, antes toda em preto e branco, colocando cores e coisas que faziam parte das lembranças dele, para que a casa passasse um reflexo dele, da sua vida e não um projeto de arquiteto.
    Acho que é isso: precisamos encontrar a alma das coisas, mas principalmente a nossa alma nas coisas que nos cercam.

    ResponderExcluir
  2. Fico devendo o nome do livro. Vou tentar procurar e posto depois.

    ResponderExcluir
  3. Achei: A lebre com olhos de âmbar
    (Edmund de Waal)
    Edmund de Waal, um dos mais importantes ceramistas da atualidade, era fascinado pela coleção de 264 miniaturas japonesas entalhadas em madeira e marfim guardadas no apartamento do tio-avô, que vivia em Tóquio. Nenhuma daquelas peças era maior do que uma caixa de fósforos e, no entanto, seu valor revelou-se grandioso.

    Mais tarde, quando herdou estes netsuquês, Edmund descobriu que, além da riqueza artística, eles carregavam uma história muito maior: revelavam o passado de sua família e eventos cruciais do século XX. A partir dessa delicada coleção, A lebre com olhos de âmbar, obra vencedora do Costa Book Award na categoria Biografia e finalista do South Bank Sky Arts Award na categoria Literatura, transporta o leitor desde um império em Odessa - passando pela Paris do fin-de-siècle e pela Viena ocupada pelos nazistas - até o Japão e a Inglaterra contemporâneos.

    ResponderExcluir
  4. Eu vi agora em Paris alguns netsuques expostos e me lembrei do livro, A lebre com olhos de âmbar. Achei a história muito interessante.
    Este é o bom do blog: uma coisa conduz a outra, que conduz a outra e vamos todos tendo como motorista a curiosidade e a beleza das coisas que os amigos e queridos têm na cabeça, tronco e membros.
    Há um livro, maravilhoso, escrito por dois italianos, chamado O Amante sem domicílio fixo. No início da década de 80 era uma brincadeira tentar descobrir quem teria escrito o quê. Há uma passagem, muito interessante, em que o protagonista dá uma moeda para a heroína do livro. E é uma moeda falsa. Ela retruca, como é que ele dá uma moeda falsa para ela. E ele responde que era uma moeda falsa de dois mil anos; era falsa, mas tinha sido falsificada no tempo em que a original foi criada...ela tinha seu valor por ter dois mil anos, mas também não deixava de ser falsa por isto!!Coisa de gênio!!!
    Ao assunto do post: eu sempre achei que casa, escritório, vida, tem que ser a cara das pessoas. Não podemos trazer o universo de ninguém para nossas vidas, nossa casa tem que parecer conosco, nosso ofício tem que parecer conosco, daí o pequeno percentual dos autênticos felizes: não é fácil.
    O trabalho dos arquitetos, decoradores e um longo etc tem seu valor, mas o valor maior ainda é a identidade de cada um.

    ResponderExcluir
  5. Nossa, seu comentário poderia ser uma nova postagem!
    Também acho seu blog uma oportunidade para pensar e conhecer. Pena que seus outros leitores fiquem inibidos para tecerem comentários.
    Fiquei curiosa com o livro que vc mencionou...

    ResponderExcluir
  6. Como assim, "..os outros leitores fiquem inibidos para tecerem comentários"?????Não conheço ninguém mais disposto ao diálogo produtivo do que eu....rs...

    ResponderExcluir
  7. E eu concordo!! Tanto que comento tudo!! rs

    Você poderia fazer uma enquete para descobrir o motivo do silêncio dos seguidores do seu blog... rs

    ResponderExcluir
  8. Mas acho que esse é o problema: eu não tenho seguidores....Como profeto, eu sou um excelente mercador...só levo e trago!!Mas minha média de visitas está melhorando!!

    ResponderExcluir

Comente o que acha que deve, mas use termos gentis, mesmo que desaforados...