sexta-feira, 8 de junho de 2012

Roberto Piva

Um poeta anarquista, um Allen Ginsberg tupiniquim, infelizmente pouco reconhecido e  já foi difícil de encontrar. Hoje, temos as re-edições da  Globo, incluindo aí o clássico Paranóia, de 1963, com as ilustrações de Wesley Duke Lee (sorry, eu tenho um exemplar!!!).Só para alegrar seus olhos:

Praça da República dos meus sonhos

(...)
os veterinários passam lentos lendo Dom Casmurro
há jovens pederastas embebidos em lilás
e putas com a noite passeando em torno de suas unhas
(...)

* * *

O jardim das delícias


(...)

relâmpagos do mesmo líquen magnético de tua boca
de quinze anos
quando não vais à escola para assistires Flash Gordon
& ler Otto Rank nas esquinas
o mundo continua sendo um breve colapso logo que as
pálpebras baixem
& meu amor por ti uma profanação consciente de
eternas estrelas de rapina

* * *

abandonar tudo. conhecer praias. amores novos.
poesia em cascatas floridas com aranhas
azuladas nas samambaias.
todo trabalhador é escravo. toda autoridade
é cômica. fazer da anarquia um
método & modo de vida. estradas.
bocas perfumadas. cervejas tomadas
nos acampamentos. Sonhar Alto.

* * *

eu sou o cavalo de Exu
ebó
do meu coração
despachado
na encruzilhada dos cometas

*****
Paranóia (1963)

Eu vi uma linda cidade cujo nome esqueci
onde anjos surdos percorrem as madrugadas tingindo seus olhos com
lágrimas invulneráveis
onde crianças católicas oferecem limões para pequenos paquidermes
que saem escondidos das tocas
onde adolescentes maravilhosos fecham seus cérebros para os telhados
estéreis e incendeiam internatos
onde manifestos niilistas distribuindo pensamentos furiosos puxam
a descarga sobre o mundo
onde um anjo de fogo ilumina os cemitérios em festa e a noite caminha
no seu hálito
onde o sono de verão me tomou por louco e decapitei o Outono de sua
última janela
onde o nosso desprezo fez nascer uma lua inesperada no horizonte
branco
onde um espaço de mãos vermelhas ilumina aquela fotografia de peixe
escurecendo a página
onde borboletas de zinco devoram as góticas hemorróidas das
beatas
onde os mortos se fixam na noite e uivam por um punhado de fracas
penas
onde a cabeça é uma bola digerindo os aquários desordenados da
imaginação

Obs.:Não tenho autorização para reproduzir os poemas dele, mas mesmo assim o faço.

Um comentário:

  1. Nenhum comentário da Valéria...ainda. Quem sabe vc, leitor, ganha esta parada??...rs...

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