sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Augusto dos Anjos

O MORCEGO

Meia-noite. Ao meu quarto me recolho.
Meu Deus! E este morcego! E, agora, vede:
Na bruta ardência orgânica da sede,
Morde-me a goela ígneo e escaldante molho.

"Vou mandar levantar outra parede..."
- Digo. Ergo-me a tremer. Fecho o ferrolho
E olho o teto. E vejo-o ainda, igual a um olho,
Circularmente sobre a minha rede!

Pego de um pau. Esforços faço. Chego
A tocá-lo. Minh’alma se concentra.
Que ventre produziu tão feio parto?!

A Consciência Humana é este morcego!
Por mais que a gente faça, à noite, ele entra
Imperceptivelmente em nosso quarto!

Morreu muito novo, de pneumonia. Mais vivesse, teria escrito maravilhas, atrevo-me a dizer!!A linguagem gongórica não prejudica a capacidade absurda de transformar em imagem as idéias que lhe iam pela cabeça. Quem é que nunca disse ou pensou "UM urubu pousou na minha sorte!!"??Pois é, é de 1910 a frase! Não é bom??!!
Aqui, http://www.biblio.com.br/conteudo/AugustodosAnjos/augustodosanjosobras.htm, vc encontra quase tudo que ele escreveu!!Mergulhe!!!


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