terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Elocubrações do fastio


Barrigão cheio, depois do sonho realizado de um churrasco na nova varanda, fico a pensar...depois de um almoçarado de terça gorda de carnaval, mesmo pensar requer mais do que as forças disponíveis parecem capazes, mas é preciso...
A divisão entre cérebro e corpo, este fenômeno moderno, foi estudada no livro Neurosis of a Man, de Trigant Burrow, onde ele diz que a sabedoria instintiva vai perdendo seu lugar para o consciente, e nossas vidas são controladas pelo pensamento racional. Nada mais antinatural, já que quase tudo que importa, no mundo e no corpo e mente humanos, acontece sem a participação da consciência. Corpo e mente querem coisas diferentes e um não entende a linguagem do outro.
Alan Watts, Thoreau e Rousseau, este último com o seu "bom selvagem", pregavam um retorno à inocência, hoje totalmente inviabilizado com a difusão das redes sociais, da superficialidade da comunicação entre as pessoas que se utilizam da rede.
Daí, corre-se para a rede à menor manifestação externa ou interna de movimentação dos sistemas racionais. Provocados, narra-se tudo, da vida íntima aos aspectos mais externos das relações sociais individuais ou de um determinado grupo. Obviamente, Hermano Vianna discorreria sobre isto com verve, sagacidade e humor, tudo o que me falta.
Porém, o que me choca é o conflito desta superexposição com a necessidade humana de contemplação, sossego de alma, o que, no dizer de Pascal, seria a paralisação do discurso vão...entendendo-se discurso vão como o fluxo incessante dos pensamentos, que, cedo ou tarde, levam a ações nem sempre as mais adequadas ao momento ou ao ambiente. Hoje, não  mais discurso vão, tudo é feito para ser exibido, sem pudores ou modéstia: opinião, reação, teses e antíteses correm pela rede, sem gerar qualquer tipo de reflexão. 140 caracteres devem bastar, memes correm pela rede com frases curtas, períodos são apenas uma figura da gramática.
É nesse maravilhoso mundo moderno que se habita, e é nele que precisamos encontrar, dentro de nós ou em algum lugar tangível, o momento e a oportunidade daquele encontro que mais tememos: o eu, o morcego de Augusto dos Anjos. Sem o "Conhece-te a ti mesmo" não se chegará jamais ao "Amai-vos uns aos outros."

O desenho acima é uma representação das conexões da net....



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