quinta-feira, 4 de outubro de 2012

China



(Tudo na China é carregado de significados: a porta, com seus adornos, diz tudo sobre quem mora aí, posição social, situação financeira. O grande degrau jamais deve ser pisado, que é para os demonios, que andam aos pulos, não poderem entrar...noblesse)

China - primeiras impressões


Tire da cabeça qualquer ideia que você tenha sobre a China. Paraíso de compras, tigre econômico, pobreza, sujeira, tudo isto, de algum ângulo, mostra-se pouco verdadeiro em relação à realidade. As cidades são tão diversas que bem poderiam ser diferentes países, à exceção do povo. Os chineses, com a convivência diária, vão perdendo aquele ar de "tudo igual" e pode-se perceber as diferentes etnias e cores de pele. As roupas, ocidentalizadas, têm um toque que as caracteriza de forma única e o uso de túnicas e tecidos mais leves torna as pessoas tão mais leves e bonitas quanto os cabelos, invariavelmente negros. As comidas, a principio, provocam estranhamento, mas logo acostuma-se com estranhos cafés da manhã, pratos não identificáveis, carnes com outra textura, óleo....mas, afinal a viagem é para novas experiências, não se quer a repetição de casa a 10000 milhas de distância do conforto do lar.

(Praça da Paz Celestial- Ti An Men - onde o menino ficou à frente dos tanques. Beijing fica permanentemente sob a camada de fog, tivemos sorte e pegamos um (1) dia de céu azul...ao fundo, o Palácio da Cidade Proibida)

O que a China tem feito nos últimos vinte anos é de desempregar qualquer futurólogo que se atrever a emitir uma opinião sobre o que vai acontecer por aqui, tanto no campo dos costumes quanto no campo econômico. Shanghai (pronuncia-se xangue..rai, uma pequena pausa aí nos dois pontos). Ao atravessarmos a cidade no ônibus, topa-se com edifícios inacreditáveis, conjuntos habitacionais imensos, estradas moderníssimas, carros ocidentais.... Sempre achei que a paisagem de Manhattan vista do promenade do Broklyn seria imbatível, até ver o centro financeiro de Shanghai visto do malecón (calçadão)...é de espantar um viajante de jornada nas estrelas....os prédios são construídos por concurso internacional e um procura ofuscar o outro. A torre de televisão é um monumento ao kitsch, mas os prédios que a cercam são absolutamente maravilhosos e, de alguma forma,  conservam uma identidade chinesa. Podem me matar, eu esqueci a máquina fotográfica. Á noite, as luzes são ofuscantes, um excesso suficiente para iluminar uma cidade de 3 milhões de habitantes (apenas os prédios da orla, entendam bem!).


(uma das portas da Cidade Proibida, são 9999 residências....estamos falando da China)

A convivência entre o velho e o novo me pareceu harmoniosa, harmoniosa mesmo no sentido de que é preciso haver destruição e sofrimento para que um dos sentidos da vida se sobreponha ao outro. São destruídos quarteirões inteiros de construções cuja idade é superior à do Brasil, pontes passam sobre regiões testemunhas de uma história à qual nunca teremos acesso, mas a caroça puxada por búfalos convive com a Mercedes 550, que deixaria meu amigo Kezen com água na boca...é um mundo novo e é interessante estar testemunhando isto. Mas também é triste, e esta tristeza só faz aumentar, já que a compreensão do fenômeno não alivia as marcas que ele provoca.


(o incentivo ao turismo interno provoca congestionamentos nas atrações turísticas. E isto porque estávamos na baixa temporada. Baixa significa "quente" em chinês...rs...e com chuva)


(Eu e Alberto em frente ao Templo do Céu, que servia para agrader as colheitas....um dos monumentos mais bonitos de toda a viagem.)

Já no final da viagem, o que me pareceu é que a China está se preparando para conquistar o mundo! Econômica e filosoficamente, eles estão preparadíssimos, não tenho dúvida nenhuma pelo que pude ver. Como exemplo, a questão do turismo interno: os números devem estar aí pela net, mas certamente serão impressionantes. O turismo interno é incentivado pelo governo e o apelo é ouvido por milhões - literalmente, não tenha dúvidas!- milhões de chineses. São ordeiros, mas fazem muito barulho e andam colados uns nos outros. Filas e instruções de comportamento são abstrações, então sinta-se em casa para furar filas, passar à frente dos outros, etc e se passar um chinês na sua frente em uma fila, adeus! Certamente virão mais 100 ou 200 depois dele...

(Como tudo na China, essas pequenas estátuas na beira dos telhados informa a posição do dono das casas...São de cerâmica e lindos...)

E, voltando para casa, o que mais entristece é poder constatar que ficamos definitivamente para trás!!!!!! Qualquer que seja o aspecto que se queira analisar, ficamos para trás: aeroportos, planejamento urbano, educação, limpeza, cultura...claro que tem pontos negativos, a censura é violenta, há um gap de gerações muito grande que eles vão ter de encontrar uma fórmula para ajeitar, mas os pontos positivos são tão impressionantes que consegue-se relevar quase tudo isto...


(Pode ser a cidade proibida, ou não...francamente, não faço mais a menor ideia, mas os templos de Beijing são muito lindos...)

Não compreendo a dificuldade que nós, brasileiros, temos em copiar os bons exemplos. A estrutura chinesa, o planejamento de Singapura,  estrutura turística da Thailândia, seria pedir demais um estudo para que possamos passar do "berço esplêndido" para a auto-estrada rumo ao futuro? A avenida dos shoppings em Singapura, o malecón e sua vista de Shanghai, a organização turística de Bangkok, todos esses pontos poderiam  ser considerados must da viagem, mas o grande e brilhante ponto, que deixa marcas, foi a limpeza! Mesmo nos lugares que movimentam milhões,no meio do Festival de Outono de Singapura, a limpeza e a ordem nas ruas impressionam ao ponto da tristeza. E a chegada em Singapura são quinze quilometros de jardins lindos, não tenho certeza de como fica o Aterro nesta história...

(Nós e o condutor do riquixá, que todos tiravam sarro, já que somos portadores de uma "pancita cervezera", como disse o Dr. Jerry Lewis) 

BEIJING

Guia Noélia


(Guia Norélia!!! Sabe tudo!!E pode acreditar, sua vida está nas mãos do seu guia na China...e não estou brincando!!!)

Arquitetura: quase tudo quadrado, feio, grande e cinza. Em Beijing. Shanghai é outra história, como veremos. A herança da influência soviética é muito pesada  e a arquitetura demonstra bem isto. Prédios cinzas, imensos e quadrados,  com pouco ou nenhum atrativo visual. Talvez o futuro e o tempo tragam a beleza contida nessas linhas retas sem graça, mas, atualmente, só são feios... Nosso hotel tem 916 quartos. As intervenções estrangeiras (Nouvel, Gehry, Forster,  a iraniana que tem um trabalho maravilhoso e outros menos votados) dão um toque de beleza à cidade! Os templos e pagodes são o que a cidade tem de mais bonito: o Palácio dos Lamas e a Cidade Proibida. Uma constatação: tudo muito limpo, é impressionante, considerando  o volume de gente que circula por essas áreas.

(Como tudo era de madeira, havia este potes imensos de bronze para recolher água da chuva. Embaixo, um fogareiro, para descongelar a água no inverno, em caso de necessidade!E os potes são lindos!!!)

As auto estradas, as highways, são super modernas e bem sinalizadas, na maior parte delas a sinalização é apenas em chinês, embora seja possível ver algumas placas em pyniyn.

A linguagem merece um capítulo à parte, por ser absolutamente impenetrável para um ocidental, mesmo os mais atentos às nuances fonéticas.

A construção civil aqui está a todo vapor. Edifícios colossais (em Pequim, máximo de 74 andares, por causa das paradas militares, nas quais os aviões passam muito baixo e pode dar algum problema)- os apartamentos são de 75 a 140 metros quadrados em média, são propriedade privada e, na maior parte, fora do alcance da população comum, que paga aluguel (informação da guia Noélia, uma excelente profissional, muito bem informada e bem disposta. O rosto mais redondo da face da terra!). Não há propriedade privada na China, apenas o direito de uso é negociado. Como disse a guia, os ricos conseguem ficar cada vez mais ricos e os pobres, cada vez mais pobres. Mas não falta trabalho, a aposentaria é bem cedo (entre 45 anos para as mulheres e 55 para os homens), o que torna os parques um ponto de encontro em que há muita atividade.


(Congestionamento humano na Grande Muralha...só se pode subir alguns trechos...pena!!!)


Banheiros públicos por todo lado, o que, em parte, garante a limpeza da cidade. Mas não existe papel higiênico, os banheiros, em sua maioria, são de agachar, o que sugere muito cuidado na hora de usar. Saia sempre com seu rolinho de papel higiênico, um luxo ocidental ainda não totalmente difundido na China. Cestos de lixo por toda parte também. Outra coisa onipresente em Beijing: vendedores de alguma coisa, oferecem de tudo, de recordações das Olimpíadas até brinquedos para as crianças. Mas não existem pedintes e nem pessoas com problemas mentais pelas ruas.


(eu, depois de subir a Grande Muralha...acredite, não é fácil!!!)

Não existe gratuidade na China: tudo é pago, menos os banheiros públicos, embora alguns o sejam. Parques, passeios, a grande Muralha, os templos, para tudo há um custo. Perguntei a respeito para a guia e ela quase não entendeu a questão, já que o conceito de gratuidade não é claro porque não é utilizado.

Para desgosto dos comunistas e socialistas de plantão, uma informação: a educação e a saúde são pagas na China, não existe saúde gratuita. A educação é gratuita apenas no fundamental - os sete primeiros anos. Depois, a partir do nível médio, o estudo é pago pelo estudante, em dinheiro  ou por serviços prestados ao estado durante um certo tempo. Não há  cotas - o conceito não existe- e o estudo fundamental é obrigatório para todos ou os pais pagam multas. Multas também para os que têm o segundo filho, de acordo com as possibilidades financeiras da família, mas não há exceção. Somente os muito ricos, artistas, empresários milionários, podem se dar ao luxo. As pessoas no campo, que necessitam de ajuda no trabalho duro, têm o segundo filho que fica totalmente fora dos registros do estado, não vai à escola e não tem atendimento de saúde ou aposentadoria. Enfim, é como se fosse um cachorro da família. Para quem viu o documentário sobre a menina chinesa abandonada pelos pais, aquela é a mais pura realidade, segundo a guia: as famílias, principalmente no interior, abandonam as meninas nas ruas para que alguém as pegue ou as adote...senão, a morte é certa.

(Os hutongs estão sendo colocados abaixo, quarteirões inteiros, para construírem prédios imensos e feios...é Caetano aplicado ao vivo....e é o ciclo da vida! Mas nunca é demais lembrar que há hutongs com mais de 1000, mil, isso mesmo, mil anos!!!!!!)


Uma coisa que impressiona muito quando se olha a China pela primeira vez mais de perto: a capacidade dos chineses de pegarem algum exemplo e copiá-lo com adaptações à realidade chinesa. Uma diversão é identificar os códigos ocidentais adaptados, ou identificar os códigos chineses no que à primeira vista é puramente ocidental. O prédio ao lado do mais alto do mundo é lindíssimo, com alguns elementos de pagode, e o projeto foi resultado de um concurso internacional. Talvez seja o prédio mais bonito de Shanghai.


(um prédio lindo, esqueci o nome do arquiteto, que parece uma folha de papel amassado!!No centro de Beijing)

A exemplo de  países ocidentais, o chinês aprendeu a vender tudo. Os guias são obrigados a levar os turistas a determinadas oficinas (fábricas ou lojas), em geral caríssimas, mas com dezenas de pessoas prontas a vender qualquer coisa: jade, pérolas de água doce, pérolas de água salgada, objetos de cerâmica, cloisonerie, chá, tapetes, móveis de laca(!!!!!), massagem, remédios fitoterápicos, um leque muito extenso de opções, todas elas muito caras. Dizem que as pérolas têm um bom preço, mas não é minha praia e não posso opinar, mas o restante é muito caro, principalmente para padrões brasileiros. Eu consegui comprar uma pequena estátua de jade e foi tudo.

Por sinal, esta é uma das duas coisas  que prejudicam os negócios aqui:  preço abusivo das cooperativas oficiais e a mania da barganha. Não se pode estar certo sobre o preço de nada, como exemplo minha camiseta no Mercado da Seda, em Beijing. Em qualquer lugar, logo aparece uma máquina de calcular, onde eles escrevem o preço que pretendem e pedem para você digitar o valor que quer pagar e isto pode se estender por horas....na verdade, é uma operação chata, de que somente os que tem vocação para isto conseguem tirar alguma diversão. Vai-se de 400 para 120 yuans, depois de longas discussões, ameaças, etc. Há quem se divirta, eu me irrito e acabo não comprando nada....


(Na Praça da Paz Celestial, perto do Mausoléu de Mao)

Hoje a China tem muito mais homens que mulheres, o que as coloca em uma posição social mais vantajosa em relação às épocas passadas. As vantagens decorrentes desta situação já levam as famílias a terem preferência pelas meninas....o mundo gira...

Fórmula um é para os fracos, quero ver alguém dirigir na China, ou melhor, em Beijing! Aparentemente não há um tipo de ordem, dobra-se para qualquer direção e a mistura de tuc-tucs, bicicletas, bicicletas motorizadas, um carrinho de pipoca com motor e direção, pedestres, carros, motocicletas, e um etc totalmente improvável em qualquer cidade brasileira, tornam a visão do trânsito de Beijing uma alucinação apavorante! De dentro do ônibus da excursão, esperava-se ouvir a qualquer momento o barulho de uma batida, mas, felizmente, o chinês dirige relativamente devagar, o que preserva a todos fisicamente, já que o desacostumado com esta bagunça, devido ao estado de terror permanente, fica mentalmente prejudicado....Os carros são muito modernos, assim como os prédios...

Turismo na China é difícil, não se iludam!!! Pouquíssimas pessoas falam inglês, qualquer outra língua, para ser claro. Espanhol, são  44 pessoas em Beijing, segundo a guia, algumas preparadas especialmente para o período olímpico. Não se encontra alguém que fale um inglês aceitável, principalmente em posições subalternas...isto lembra algum país que tem um grande futuro pela frente? E grandes eventos que irão melhorar as condições de vida dos autóctones?


(Paulo e Anísio em frente a um dos portões da Cidade Proibida...proibida porque não dava para visitar tudo, nunca...rs...9999 residências...)

A grande diferença, a favor da China: o povo gosta de trabalhar e é capaz de aceitar um rumo traçado pelo estado e inclui-lo em seu projeto de vida. O progresso e bem estar para todos, aparentemente, são um projeto nacional e único para cada chinês.  As dificuldades, como a ausência do inglês em serviços essenciais, são ultrapassadas pelo esforço e entrega para ver o serviço feito, mesmo que nem sempre da forma mais correta...Quando não se consegue a comunicação de imediato, há um esforço coletivo para se conseguir o entendimento que leva à solução do problema. E todo trabalho é digno, aparentemente.  A mão de obra disponível é imensa, então para tudo há muita gente, como na sauna e na massagem do hotel.

O movimento de pessoas, motos, bicicletas elétricas, carrinhos nos sinais chega a ser engraçado, às vezes são centenas...

(Palácio de Verão, onde tem o lago com o barco de mármore)


Vendo os aeroportos que usamos na China, penso no tamanho do vexame que vamos passar com a Copa e as Olimpíadas. Não há tempo hábil para que sejam feitos sequer 50% do que foi feito aqui, os aeroportos são simplesmente gigantescos. E a comparação é com o Galeão e Guarulhos, vejam bem, nada a ver com Santos Dumont ou Congonhas, que sequer pagariam place por aqui.

Hotel de Pequim: muito bom, com um café da manhã excelente, imenso, são mais de 900 quartos, para atender a todas etnias que frequentam o salão.  No capítulo das comidas falo mais detalhadamente sobre a variedade de comidas à disposição dos hóspedes, mas adianto que há surpresas agradáveis. O hotel tem uma piscina semi-olímpica aquecida, foi onde encontrei os iranianos que, por alguma razão que os astros podem explicar, adoram o Lula. O mais engraçado é que identificam fundador da civilização brasileira através da mão aberta, com o dedinho recolhido. 

Gorjeta para o carregador: y5 por volume, O Alberto, sem saber, deu um valor menor e o carregador não aceitou.

Transporte público: não utilizamos, porque não tivemos oportunidade. O tempo todo com a guia e o ônibus, e, uma vez, utlizamos um taxi, que tem separação de vidro entre o motorista e o passageiro. A disputa por um carro é dura, o taxi é baratíssimo, mas a comunicação é impossível. Esqueça inglês ou francês ou melhor, esqueça qualquer coisa que não seja chinês.

(um filho do dragão....atenção para a quantidade de gente em volta...)

Segundo a guia Noélia, o transporte público é muito barato e rápido e o metrô é enorme. Os ônibus e bondes circulam de uma forma maluca pela cidade. As filas para transportes, como quase tudo na China, são imensas e aparentemente bagunçadas. Regras de trânsito não passam de uma abstração...

Passeios? Qualquer guia vai poder informar melhor do que eu poderia, mas segue uma listinha do que acredito ter de ser vidto, e a descrição qualquer site da internet fornece:

- Praça Ti An Men, onde o rapaz parou os tanques:
- Cidade Proibida;
- Palácio dos lamas;
- Grande muralha;
- Templo do CéU;
- Palácio do verão;
- mercados da seda
- rua pealtonal e
- visita a um hutong, para vermos como eles moravam antigamente. E aproveite para andar de riquixá.

(um filmezinho...será que vai funcionar???)

Tudo muito bem organizado, cheíssimo, com  muitos banheiros públicos limpos, mas torno a lembrar: leve seu papel higiênico! A parte chata é que os guias devem (ah! os eufemismos!)levar os grupos às lojas oficiais, então, pode se preparar: casas de chá, jade, pérolas, etc. Não há como escapar, nem a pedidos.

E os parques, passeie pelos parques de Beijing e veja as atividades das pessoas, as formas criativas que as pessoas encontram para transformar os espaços públicos em centros de convivência. Há de tudo, das óbvias lutas, dança de salão, ao clube do leque, caligrafia, um tipo de macramê, um sem fim de atividades...e a limpeza, que se julgaria impossível pelo número estúpido de pessoas que frequentam os parques.

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