terça-feira, 30 de outubro de 2012

Elevadores e outros teletransportes


Na minha infância, durante um certo tempo, me fazer entrar no elevador era uma tarefa masculina: um tio, pai, adulto muito maior. O motivo: os incas venusianos, prontos para me abduzir assim que as portas se fechassem. Tive de vir ao Rio fazer um tratamento de saúde e era um trabalhão para minha tia Dadá, a favorita de todos, conseguir chegar ao consultório em minha companhia... tudo passa. Menos o amor pela Dadá, alguém tão doce e gentil que nunca foi chamada de forma diferente em toda a sua, infelizmente curta, vida, por todos e eu quero dizer isto mesmo, absolutamente todos que a conheceram a chamam e conhecem, por um  único nome: Tia Dadá.


Já adulto, ainda penso,à semelhança do detetive Hole, que ao sair de um elevador encontrarei um mundo melhor, mais de acordo com os meus pensamentos de convivência e adequação humanos...domage!! Nunca aconteceu, por mais longa que tenha sido a viagem entre os andares. Minha aflição ao subir no elevador do edifício mais alto do mundo era não reconhecer o mundo externo, me sentir mais deslocado do que já me sinto nos dias de hoje. Puro desencanto!

Manoelito endoidou??? Não, essas elocubrações se desenvolveram devido aos acontecimentos do dia, que me fizeram pensar na obra de Richard Sennet, O Declínio do Homem Público, em que ele, de certa forma, trata da personalização das relações sociais, onde as pessoas se vêem obrigadas a ficar demonstrando, afirmando, exibindo, o que eles "realmente" são. Ou o que eu realmente sou. Mas quem está disposto a ouvir?

Na definição iluminada de Emannuel de Souza, estamos nos transformando no avatar deste ser transformado, o tal cidadão narciso, o lindo..Mas o outro só é realmente importante na medida em que reflete a personalidade do outro. .Fôssemos metade do que proclamamos em redes sociais ou na rede, o mundo seria um lugar muito melhor.

Não é e nem somos. A luta diária é contra os cães e dela não brota flor alguma.

Em tempo: o nome da tia Dadá era Maria Magda Ribeiro da Silva e ela faz muita falta.


Um comentário:

  1. Fiquei curiosa para saber qual acontecimento (ou pessoa) revolveu tanta coisa!

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